domingo, 18 de janeiro de 2009

A dramática história de Vincent Enyeama

Hoje irei falar de um jogador. Um que joga preferencialmente com as mãos, em detrimento dos pés. Irei falar de Vincent Enyeama (1,80m), guarda-redes do Hapoel Tel-Aviv. Nascido na Nigéria a 29 de Agosto de 1982 (26 anos), Enyeama começou a sua carreira no Ibom Stars, da Nigéria. Na temporada 2001-02 mudou-se para o Enyimba, onde permaneceu três temporadas (até à época 2004-05, inclusivé), e onde venceu três ligas nigerianas (2002, 2003 e 2005), uma taça nigeriana (2005) e duas Ligas dos Campeões Africanos (2003 – Enyimba sagrou-se o primeiro clube nigeriano de sempre a vencer uma Champions Africana – e 2004). Na temporada 2004-05 representou o Heartland FC. No fim desta temporada estava na altura do "salto". Israel chamou por ele e Enyeama entrou no país pela mão do Bnei Yehuda. Perparava-se a temporada 2005-06, temporada em que ajudou a equipa a qualificar-se para a ronda final da taça de Israel e a ficar em 4º lugar na liga, feito que permitiu a qualificação da equipa para a Taça UEFA. Apenas permaneceu mais uma temporada (2006-07), visto que na época seguinte estava já de malas feitas, desta feita para representar os demónios vermelhos, alcunha dada ao Hapoel Tel-Aviv (2007-08) onde, na presente temporada (2008-09), está já a fazer a sua segunda época de vermelho ao peito.

A sua primeira experiência internacional pelo seu país natal, Nigéria, ocorreu no Mundial 2002, onde este foi convocado para ser o substituto da primeira escolha Ike Shorunmu. Nessa competição, Enyeama apenas teve a oportunidade de jogar uma partida, porém, desde a retirada de Shorunmu, o guardião tem vindo a ganhar o seu espaço na baliza, tendo passado ele a ser a primeira escolha para dificultar a tarefa aos atacantes adversários. O certo é que a baliza da Nigéria tem estado órfã desde o declive de Peter Rufai e a terrível lesão que obrigou Joseph Dosu a deixar o futebol, ele que era tido como o guardião da baliza nigeriana durante os próximos anos. Desde o Mundial de 1994, disputado nos Estados Unidos, que a baliza tem sido o calcanhar de Aquiles das super águias, poderosa nas suas demais alíneas. Foram 12 anos para encontrar um guarda-redes que desse garantias. Esse guarda-redes foi Vincent Enyeama. Enyeama estreou-se com as cores da sua selecção, num jogo amigável, de preparação para o Mundial 2002, contra o Kenya. Nesta altura Adegboye Onigbinde (seleccionador da Nigéria) estava já à procura de um substituto para Shorunmu e estava indeciso entre Enyeama e Austin Ejide. Acabou por se decidir pelo primeiro. Com Shorunmu em campo, a Nigéria perdeu os dois primeiros jogos do grupo, contra a Argentina e a Suécia. Matematicamente eliminada logo à partida para o terceiro jogo com a Inglaterra, Onigbinde decidiu apostar em Enyeama para a baliza, numa clara aposta de futuro, quando este tinha apenas 20 anos. O jogo foi fraco, porém o guardião realizou uma excelente partida onde fica como imagem dessa partida efectuada por Enyeama, uma excelente defesa a um remate de Paul Scholes à queima-roupa.

A Champions ganha pelo Enyimba, em 2003, proclamou-o como o futuro guarda-redes da selecção. Em 2004, nas meias-finais, contra o Ésperance de Tunis, o treinador do Enyimba, Okey Emordi, decidiu, num gesto insólito, substituir, uns minutos antes dos penalties darem início, Enyeama pelo seu suplente,

Dele Aiyenugba, que se pensava um expert neste tipo de lances

, depois da eliminatória ter ficado 2-2, no conjunto das duas mãos. Na final da competição esperava-o outra equipa tunisina, o Etoile du Sahel. A primeira-mão foi disputada no campo adversário e a equipa do guardião saiu derrotada por 1-2. Na volta, a 2ª mão foi disputada, portanto, em casa (Abuya), e foi um jogo incrível. Ao minuto 40 o árbitro apitou um penalty para a equipa nigeriana (bem assinalado), considerando mão na bola do defesa tunisino Mohamed Miladi. O estádio calou-se ao ver que quem se dirigia para a bola era precisamente Vincent Enyeama, algo comum na equipa em jogos mais pequenos, porém, se tivermos em conta que estamos perante uma final da Liga dos Campeões, facilmente percebemos essa reacção dos adeptos, esse medo de que algo falhasse. A baliza, essa, era ocupada por, nada mais, nada menos, que Austin Ejide, o seu maior rival na corrida pela baliza das super águias, que se encontra actualmente ao serviço do Bastia, equipa francesa que milita na segunda divisão. O momento era apoteótico. Enyeama venceu o duelo. Na segunda parte, outro golo da equipa nigeriana fazia adivinhar um bom desfecho, mas o Etoile conseguiu empatar a eliminatória, graças a um golo de Zouaghi, defesa da equipa visitante, após um livre marcado pelo internacional tunisino Zoubier Baya. Foi com a eliminatória empatada que se cumpriram os 6 minutos de descontos dados pelo árbitro da partida e, como também assim terminou o tempo regulamentar, a eliminatória seguiu logo para as grandes penalidades, saltando o prolongamento, pois na Liga dos Campeões Africanos a lei assim o dita. Okay Emordi decidiu fazer sair Enyeama, ao minuto 94, para a entrada do seu suplente Dele Aiyenugba, repetindo a jogada das meias-finais. Este voltou a ser o herói da partida ao deter o quarto penalty, assinado por Bem Frej. O Enyimba “repetia a piada”, mas desta vez com Enyeama a ficar para segundo plano, apesar do penalty marcado.

Entre ambas as Champions, Enyeama disputou a CAN 2004, que se joga em Fevereiro. Desde a retirada de Shorunmu que a imprensa bombardeou as páginas dos jornais com vários nomes de possíveis sucessores do mesmo, Ndubuisi Egbo (a jogar, na altura, no El-Masry, do Egipto), Murphy Akanji (tinha sido quem havia substituído, com garantias, na altura, Shorunmu na vitória, frente ao Gana, nos quartos-de-final da CAN 2002 – competição para a qual Enyeama não tinha sido convocado – e que na altura defendia as cores do Sliema Wanderers, de Malta), Greg Etafia, que jogava na África do Sul, o próprio Austin Ejide e, para terminar a extensa lista habitual, Dele Aiyenugba. Apesar de todas estas hipóteses, a escolha do seleccionador da altura, Christian Chukwu, acabou por recair em Enyeama e, apesar de algumas críticas, este não defraudou as expectativas de Chukwu. Contudo, e como um jogador não faz uma equipa, apesar das boas exibições do guardião, a sua selecção saiu derrotada pela eterna Tunísia, nos penalties, nas meias-finais. Entenda-se pela “eterna Tunísia” o facto de Enyeama ter já um vasto historial, quer a nível de clubes, como de selecções, de jogos contra equipas da Tunísia ou contra a sua selecção. Apesar das suas actuações na prova e na posterior Champions de 2004, Enyeama passou o pior momento da sua carreira entre 2004 e 2005. Para justificar esta afirmação encontra-se a sua “não-transferência” para o Bolton. Assim, após ter sido eleito o melhor guarda-redes da CAN 2004, Enyeama preparava-se para ir passar um tempo à experiência em Inglaterra, ao serviço do Bolton, porém tal acabou por não acontecer por ter apanhado malária. Só por curiosidade, neste capítulo particular, alguns apontavam o capitão dos trotters, da altura, e da selecção da Nigéria, Jay-Jay Okocha como fundamental neste trial, porém este revelou ter sido chamado a “depor” apenas na parte final do processo, para ser questionado das capacidades do colega de selecção em jogar ao mais alto nível, ele que até então ainda não tinha saído do continente africano. Para além desta enorme frustração na sua carreira, encontra-se ainda o facto de o treinador do Enyimba ter ido treinar para a África do Sul, após ter conquistado a Champions pelo segundo ano consecutivo e o novo treinador ter confiado a titularidade a Dele Aiyenugba. Após perder o estatuto de titular, Enyeama decidiu mudar de ares para não perder também o comboio da selecção. Assim se processou a sua ida para o Heartland FC, equipa de menor dimensão da Nigéria, que não obstante já tem dado excelentes jogadores, tais como os irmãos Uche ou Nwankwo Kanu. Após um ano nesta equipa, o salto era inevitável. Enyeama chega à Europa pela porta do Bnei Yehuda, a terceira equipa de Tel-Aviv, depois de Maccabi e Hapoel. Nessa temporada, o clube foi bastante bem-sucedido, visto que ter terminado em 4º lugar da tabela classificativa (conseguindo apurar-se para as competições europeias – UEFA) e ter sido apenas finalista-vencido da Taça de Israel (apenas perdeu 0-1, frente ao Hapoel Tel-Aviv, com o golo a ser marcado ao minuto 87, por intermédio de Ilia Yavorian).

Chega a CAN 2006 e Enyeama é definitivamente consagrado como o melhor guarda-redes africano do momento, assinando defesas magistrais ao longo das partidas tecnicamente perfeitas que foi realizando. Apesar de tudo, o zénite do seu êxito chegou na ronda de penalties dos quartos-de-final que opôs a detentora do título da CAN passada, Tunísia, e Nigéria. Mais uma vez a Tunísia, e desta vez não foi substituído antes por Dele Aiyenugba! Desta vez, Enyeama, que estava a realizar um grande jogo, deteve 3 dos 5 penalties marcados pelos tunisinos. Estavam vingadas, assim, as meias-finais da competição anterior, realizada em pleno solo tunisino, com uma actuação bastante discutível do juiz da partida. Apesar de, na fase seguinte, nas meias-finais, a Nigéria ter sido prontamente eliminada pela Costa do Marfim, por 0-1, o que é certo é que Enyeama foi definitivamente consagrado e acabou de uma vez por todas com a malapata dos penalties que o perseguiam sempre que era necessário defendê-los.

A temporada seguinte, já não correu nada bem ao Bnei Yehuda: foi logo eliminado pelo Lokomotiv de Sofia, por um total de 6-0. Na liga terminou a lutar para não descer. Todavia, mais uma boa temporada de Enyeama permitiu-lhe transferir-se para um clube maior, ainda que dentro da própria cidade, o Hapoel Tel-Aviv, uma equipa bastante mais poderosa que o seu segundo rival de Tel-Aviv, Bnei Yehuda, depois do Maccabi, para substituir o veterano Shavit Elimelech. Para cobrir a sua saída, o Bnei Yehuda foi buscar, “curiosamente”, o seu suplente no Enyimba, Dele Aiyenugba, que lhe tirou a titularidade já no final da sua estadia no clube nigeriano onde obteve mais sucesso, devido a opções técnicas do novo treinador da altura, que substituiu o treinador bicampeão africano. Num clube de maior aspirações, a visibilidade de Enyeama é maior, sendo que no seu primeiro ano de Hapoel, após passar as eliminatórias, com jogos frente ao Siroki Brijeg e ao AIK, a equipa disputou um grupo na Taça UEFA, em que enfrentou o Tottenham, o Getafe, o Anderlecht e o Aalborg, tudo jogos que a equipa de Tel-Aviv perdeu, excepto o jogo contra o Getafe, em que surpreendeu ao ir ganhar fora 1-2. Internamente a temporada correu mal, terminando a equipa a 26 pontos do líder, na posição 6 de uma tabela que apenas conta nos seus quadros com 12 equipas. Ainda assim, terminando à frente do Bnei Yehuda que ficou em 9º. Esta temporada a equipa já não se encontra na UEFA. Depois de passar as pré-eliminatórias contra o Dogana (5-0, total) e Vojvodina (3-0, total), a equipa israelita não aguentou o Saint-Étienne, que ainda está activo na prova, perdendo ambas as mãos por 2-1. Na liga, a equipa de Enyeama encontra-se em 3º, a 7 pontos do primeiro classificado, Maccabi Haifa, porém ainda falta muito tempo para a temporada chegar ao fim (18 jogos).

4 comentários:

Pedro Nogueira disse...

Como o outro "post" revelou um erro (dois videos iguais) e me esqueci de colocar as estatísticas que tinha feito, sobre a carreira do jogador, decidi apagar o mesmo e fazer um novo (igual mas com as actualizações devidas). Para isso tive de apagar obrigatoriamente o comentário de JA, ao qual agradeço mais uma vez desde já pelo acompanhamento diário do blog, porém tive o cuidado de o transportar para aqui:

Perante esta descrição que revela a excepcional aptidão do Enyeama para as balizas, proponho que o SLB o contrate....
Com ele, o Leixões não teria conseguido converter em golos as 5 grandes penalidades e o Benfica prosseguiria na Taça de Portugal!
Quim, Moreira e Moretto que se cuidem.....
Boa pesquisa, Pedro.
JA

Peço desculpa pelo incómodo.

Anônimo disse...

É com agrado que verifico ter acesso a mais um exemplo de excelente trabalho de pesquisa futebolística.
MA

Anônimo disse...

Também gostaria de partilhar com o blogger a minha admiração pelo melhor jogador do mundo: Cristiano Ronaldo.
Ele merece.
MA

Anônimo disse...

Pedro está desculpado e a MA aviso que o tal Cristiano -brilhante na época transacta - já tem substituto que dá pelo nome de Messi.....
Se não sofrer lesão grave, esse pequeno-grande jogador vai vencer o trofeu de melhor do mundo em 2008/2009, após 2 anos consecutivos como 2º ( até parece o Poulidor, ciclista francês, eterno 2º na Volta à França).
JA