terça-feira, 6 de julho de 2010

Mundial 2010: Dia 26


Uruguai 2 – Holanda 3

Com Suárez castigado, assim como Fucile, e Lugano lesionado, mesmo que tal não viesse explícito na ficha de jogo, mas que se presume facilmente, tendo em conta que é titularíssimo e capitão de equipa, com um peso muito grande no seio do grupo, o Uruguai só tinha uma maneira de abordar o jogo, isto, claro, se queria lutar pela vitória. Essa maneira, esse caminho, prendia-se com um espírito de luta e solidariedade que colmatasse tais ausências que tomasse força tal, que fosse capaz de destronar a Holanda de Sneijder, Robben e companhia.

E desde o início do jogo que se percebeu que Tabarez sabia muito bem aquilo que queria, e que o que ele queria era o mesmo que a equipa queria. Colocou Forlán na frente de ataque, ao lado de Cavani, fez um losango a meio-campo, com o habitual trinco, Ríos, a proteger as costas de Perez (na direita) e Álvaro Pereira (na esquerda), que regressou à titularidade após “aventura” pelo 4-2-3-1 (contra Gana), colocando Gargano a pisar os terrenos que compreendem a lua cheia do meio-campo e a posição 10. Na defesa, fez regressar Godín para colmatar ausência de Lugano e manteve Victorino, no eixo, mantendo Maxi na direita e adaptando Cáceres à esquerda mantendo, obivamente, Muslera com a missão espinhosa de manter as redes da baliza inviolável.

Da parte da Holanda, as únicas alterações que ocorreram ficaram-se a dever a suspensões de 2 jogadores e foram trocas directas, o que não surpreende de maneira nenhuma, uma vez que a equipa de Bert Van Marwijk nunca prescinde do seu 4-2-3-1. Saiu Van der Wiel da lateral-direita, para dar lugar a Boulahrouz e, para fazer dupla com Van Bommel, no meio-campo defensivo, De Zeeuw para o lugar de De Jong.

Como referia no início do texto, o Uruguai interpretou perfeitamente a filosofia com que devia de abordar o jogo, desde o apito inicial, entrando destemida e organizada. Só assim poderia mostrar à Holanda que tinha uma palavra a dizer e agigantar-se, mostrando-lhe que o passaporte para a final não estava tão assegurado assim.

Uma Holanda muito desinspirada, sem grandes ideias, com os seus principais dinamizadores do jogo ofensivo (Sneijder, Robben e Kuyt) muito apagados, mostrou-se acessível aos sul-americanos até que um golão de Van Bronckhorst, do meio da rua, descaído na esquerda, com a bola sempre a subir e a deixar Muslera completamente batido, tendo mesmo embatido ainda no poste, fez ver que a missão Uruguai nada tinha de fácil, porque uma equipa como a Holanda, mesmo a jogar mal, pode virar o jogo num lance individual e, nalguns casos, até mesmo fortuito.

Poderia pensar-se que o Uruguai baixaria as armas e não mais reagiria no jogo, contrariamente à Holanda que se galvanizava. Nada mais errado. A filosofia com que o Uruguai abordou o jogo não podia durar apenas os primeiros 18’, mas sim o jogo inteiro, inclusive no período em que a Holanda esteve por cima, que nunca foi muito tempo. E o melhor elogio que se pode fazer a esta equipa, metaforicamente, é ir buscar a imagem de Forlán, o líder da revolta Uruguai, após tantos e tantos anos na sombra, a marcar um golo de longe, após simbiose perfeita de os seus dois pés, quando o marcador marcava ainda 41’, demonstrando que a força uruguaia continuava em alta, com capacidade de ‘reempatar’ o jogo no melhor momento em que o podia ter feito. Espantoso!

Tabarez foi com a sua equipa para os balneários e lá sonharam todos em conjunto em continuarem a fazer história. Voltaram e ainda se bateram que nem uns leões por mais de 25’. Até que…aos 71’, um remate de Sneijder à entrada da área, com sorte nos ressaltos e na decisão do fiscal, que validou mal o lance, deu, de novo, a vantagem à sua equipa e, apenas 2 minutos depois, o trio adormecido construiu a jogada que mataria o jogo: Sneijder abre em Kuyt que, da esquerda, tira o cruzamento para o cabeceamento letal de Arjen Robben.

Manteve a cabeça bem levantada o Uruguai, tentando derrubar o Golias que tinha pela frente, e Maxi voltou a deixar nova imagem fantástica da equipa: estava já no minuto 90, o jogo, no momento em que, em jogada perfeitamente estudada e já no último fôlego, o Uruguai tem um livre a cerca de 30 metros da baliza de Stekelenburg, livre esse que é marcado curto, para Maxi, que surge vindo de trás, e que, apesar da percepção de Elia, vem para dentro, dando um toque de pé direito e finalizando com o esquerdo. Mais uma imagem fabulosa, de novo, e não por acaso, numa jogada de simbiose perfeita entre pé direito e esquerdo. Caíram de pé os homens de Tabarez.

Uma palavra especial para Gargano e Cáceres, os homens que entraram no onze. O 1º fez um jogo sem que lhe possam apontar grandes defeitos, tal foi a acção que teve a meio-campo, sempre muito consistente, a dar poder ao meio-campo, assim como Cáceres, que soube anular muito bem as acções de Robben, apesar de estar adaptado, sempre muito rápido. 2 nomes, que de sonantes nada têm, mas que têm uma importância nesta equipa impressionante: Ríos e Perez. O 1º é o tampão da equipa, garantindo ainda os equilíbrios da mesma; o 2º costuma formar com o 1º um duplo-pivot, mas acumula outras funções, sendo um médio mais de transição e contribuindo decisivamente para as transições da equipa.

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