Esta semana uma das notícias que me ficou na retina veio de Espanha: a da possibilidade de retorno à presidência do Real Madrid, por parte de Florentino Perez. Assim, e de acordo com a imprensa internacional, Perez poderá estar a preparar um "dramático" retorno com o intuito de recuperar o orgulho madrileno que parece sentir estar a desaparecer. Rumor ou não, pouco interessa para o caso. Hoje vou expressar no "papel" uma opinião que me "atormenta" sempre que ouço falar mal da geração dos galácticos do Real Madrid, a era criada por Perez, esse mesmo homem de negócios espanhol que há 8 anos (2000), concorreu à presidência do Real, tendo como grande trunfo a contratação de Luís Figo, na altura representado por José Veiga, cuja cláusula de rescisão presente no contrato que o ligava ao rival Barcelona estava avaliada em 61 milhões de euros e que, aquando da sua ida para os merengues deixou o seu nome na história do futebol como a contratação mais cara até à data. Perez que, refira-se, contra todas as expectativas, acabou por ganhar o lugar.
Sempre que se fala nos galácticos a tendência – não me recordo de falar pessoalmente com alguém que me tenha manifestado uma opinião contrária – é sempre a de invocar a falta de títulos da Era-Perez, devido à "constelação de estrelas" que se fazia sentir no balneário madridense, o que levava à falta de empenho, a manias, e a outras coisas mais; o que, em suma, faz dessas 6 épocas (tempo em que Perez esteve à frente do Real, de 2000 a 2006) um autêntico desastre, um plano completamente falhado. Pois bem, em primeiro lugar vou expôr a minha opinião quanto à gestão de Florentino Perez e em segundo e último lugar, as suas consequências financeiro-desportivas.
Ninguém pode pôr em causa o conceito da gestão que Florentino Perez quis incutir (e incutiu) no Real: Melhor clube do Mundo merece os Melhores jogadores do Mundo. Nada mais simples e mais básico do que esta lógica, um clube com a dimensão e o estatuto do Real tem a "obrigação" de tentar superar-se a cada dia que passa e ter a mentalidade de ganhar tudo, com a ajuda dos melhores. Atormenta-me, se me permitem a repetição, quando ouço o argumento do "o Real não ganhou nada porque o plantel eram só estrelas", pois, para já, esta afirmação não tem qualquer cabimento, como vou referir mais aprofundadamente mais à frente e depois eu pergunto o que é que um clube deve fazer, isto é, como é que está correcto gerir um clube na cabeça destas pessoas. Será que para estas o ideal será estabelecer um limite de 3, 4, 5 "estrelas" e o resto do plantel ser composto por jogadores mais modestos? Sinceramente não percebo. Um clube deve ter como principal preocupação a de construir o plantel mais forte possível de maneira a atingir o maior número de títulos possíveis e como, neste caso, estamos perante o Real Madrid, clube considerado por muitos como o Melhor do Mundo, ideia manifestada na cabeça de muitos jogadores (com o tal sonho de vestir a camisola blanca), esse limite é vasto, isto é, devido às suas inúmeras condições para reunir os melhores jogadores do Mundo (recursos financeiros, prestígio, excelentes infra-estruturas, numerosa massa associativa,...enfim, todo um conjunto de características que fazem do Real um colosso mundial), eu pergunto mais uma vez: porque não fazê-lo? Porque não tentar reunir, não digo os 25, pois são poucos os melhores que aceitam o banco, mesmo que esta seja uma situação passageira, porém os 11 melhores jogadores mundiais – claro que irá variar em função do treinador – com o intuito de “dominar o mundo”?
A segunda parte da minha exposição prende-se com a falta de conhecimento presente na acusação de que a gestão de Perez foi má, prejudicial, etc. Como tal, e antes de partir para o palmarés conquistado pelo Real aquando da sua passagem pelos merengues, vou começar por referir que a primeira preocupação do Presidente foi a de liquidar as dívidas para, assim, “desafogar” economicamente o clube que estava com um débito no valor de 270.000.000 €, com o intuito de, posteriormente, poder pôr em prática o seu plano que, como já dei a entender, acho perfeitamente legítimo e benéfico. Para tal, Perez cedeu parte do terrenos de treino à cidade de Madrid, em 2001, e vendeu o resto a quatro companhias, que passo a enumerar: Repsol YPF, Mutua Automovilística de Madrid, Sacyr Vallehermoso e, por fim, OHL. A cidade de Madrid, por sua vez, desenvolveu os terrenos, o que naturalmente aumentou o seu valor e, de seguida, adquiri-os¹. Como se poderá facilmente constatar, as dívidas ficaram mais que saldadas, pelo que o clube já pôde concentrar as suas forças na aquisição de activos. Como se não bastasse, e com o dinheiro ganho com todo este processo, o Real construiu um complexo de treinos com qualidade superior ao antigo, nos subúrbios de Madrid.
Após a temporada 2004-05, o Real acabava com a invencibilidade do Manchester United de estar no topo da tabela quanto aos clubes que mais lucro obtêm ao longo do ano, invencibilidade esta que já durava há 8 épocas consecutivas (subida de 17% face à temporada anterior, para 275.700.000€). Em Janeiro de 2007, o Real pagou as suas dívidas que perfaziam um valor de 224.000.000€ , caindo assim para o segundo posto dos clubes com maior saldo positivo no que toca a receitas. Contudo o Manchester, que ocupava o primeiro lugar da tabela, tinha dívidas de 872.000.000€ no mesmo ano (mesmo assim menores que os 1.250.000.000€ que se faziam sentir em 2005). Mesmo tendo pago as suas dívidas, o Real voltou a ocupar o primeiro posto da tabela em Março de 2007 (dois meses depois), ao receber 762.000.000€ em direitos televisivos. Em Setembro do mesmo ano, sem qualquer espanto, o Real foi considerado a marca de futebol mais valiosa da Europa, pela BBDO e em Maio deste mesmo ano, o segundo clube mais valioso, com um valor marcado em 951.000.000€. Ainda assim, continua a ser o clube mais rico do Mundo, com um rendimento de 351.000.000€ e Florentino Perez ficou conhecido por isso mesmo: ter tornado o Real Madrid no Clube Mais Rico do Mundo.
Há ainda que fazer referência ao facto de, homem de negócios como é, Florentino Perez ter utilizado o seu "olho para o negócio" de forma bastante esperta e eficaz, pois ao juntar nomes sonantes ao clube, este estava a crescer em todos os sentidos, tais como na vertente desportiva, merchandising (na venda de camisolas, por exemplo) e na transportação/elevação da imagem do clube além fronteiras, com especial incidência para Ásia, onde é bastante conhecido o apego dos fãs a jogadores como Beckham e Ronaldo, por exemplo. Assim, e pegando no exemplo do Fenómeno, é de referir que, concluídos os dois meses seguintes à sua contratação ao Inter, por uma soma de 45.000.000 €, tinham sido já vendidas 200.000 camisolas com o seu nome nas costas (ele que era o número 11), cada uma por 77 €, o que constituiu um total de 15.400.000 € que entraram nos cofres merengues.
Referência à “ausência de títulos presente no Santiago de Bernabéu, aquando da passagem de Florentino Perez por Madrid”. 7 títulos em 6 anos é a marca. Poder-se-à invocar o argumento de que o Real é um clube para mais, porém, na minha opinião, não é muito ético condenar um clube, pelo menos da maneira que vejo e ouço pessoas fazerem, com uma média superior a 1 título por época. Ainda por cima quando a juntar a 2 Ligas Espanholas, 2 Supertaças de Espanha, 1 Supertaça Europeia e a 1 Taça Intercontinetal, está presente uma Liga dos Campeões por entre as conquistas. Nem todos os presidentes se podem gabar de tal. Vejamos o exemplo de Roman Abramovich. Bem sei que são cenários distintos, mas que têm de semelhante o tempo de clube e os títulos conquistados. Assim, e apesar de Abramovich ter assumido controlo do Chelsea, clube londrino com uma dimensão e um historial bem mais pequenos que o da capital espanhola, toda a gente reconhece que o russo tem vindo a fazer um excelente trabalho no Chelsea e, no entanto, em 5 anos de mandato, o Chelsea "apenas" reuniu 6 títulos, dos quais não constam a competição mais prestigiada no Mundo clubisticamente, e por quem os blues tanto suspiram, a Liga dos Campeões. Assim, fazem parte do rol de títulos do mandato Abramovich: 2 Ligas Inglesas, 1 Taça de Inglaterra, 2 Taças da Liga e 1 Community Shield (Supertaça Inglesa), tudo no reinado de José Mourinho. Como facilmente se constata, e fazendo uma comparação “em cima do joelho”, só para os leitores que estão a ler e se identificam com o grupo dos que dizem mal de Perez e bem de Abramovich, se o Chelsea nada ganhar este ano, pode-se concluir que teve um período pior do que aquele que o Real teve, com menos títulos, se ganhar um título, igual e, por fim, dois ou mais, melhor.
Para terminar, gostaria de expôr o “porquê” do falhanço do plano galáctico que Perez tinha para o Real. Os grandes males de Perez foram, em primeiro lugar o despedimento de Vicente Del Bosque, no final da temporada 2002-03, após ter ganho a 29ª Liga da história do clube, pois para além dos resultados visíveis logo pela conquista do campeonato, era um treinador que geria muito bem o balneária com toda aquela “constelação” e, em segundo, o facto de apenas se preocupar com a vertente ofensiva da equipa, e aí contratou muitos e bons jogadores, tais como Ronaldo, Beckham, Figo, Owen, Robinho e Júlio Batista. Porém Perez entendia que os jogadores defensivos não mereciam tantas benesses como os seus colegas de ataque, pelo que respondeu negativamente ao pedido de Makélélé em melhorar o salário (recorde-se que este tinha dos salários mais baixos do plantel, diferença esta que ainda se notava mais quando comparado a jogadores como Figo, Beckham, Ronaldo ou Raúl, por exemplo) e afirmativamente ao pedido do mesmo, quando este requisitou para ser listado para transferência, por exemplo, no seguimento da resposta que lhe foi dada ao seu primeiro pedido². Outro caso flagrante onde Perez falhou foi em 2004, quando estava tudo bem encaminhado para o Real adquirir Patrick Vieira ao Arsenal, tendo o negócio apenas falhado pela intransigência do Presidente em pagar salários elevados por “jogadores defensivos”.
De outra maneira, acredito firmemente que Perez ainda estaria à frente do Real por muitos mais anos e que o seu plano teria resultado na perfeição, bastava-lhe para tal, nem digo perceber de futebol (que o próprio afirma não perceber), mas ter sido um pouco mais inteligente. Não era preciso muito…
¹ os críticos alegam, apesar de não existirem provas, que a cidade de Madrid pagou pelas propriedades um valor superior ao valor real das mesmas, de maneira a fazer face às dificuldades financeiras dos merengues.
² “Não iremos sentir a falta de Makélélé. A sua técnica é média [não é nada de especial], falta-lhe velocidade e capacidade para pegar na bola e passar os adversários e 90% da sua distribuição ou vai para trás ou para os lados”. Esta foi a afirmação que Perez proferiu aquando este “imbróglio”, o que só demonstra uma falta de respeito pelas capacidades de Makélélé, que eram enormes, como se continuou a comprovar no Chelsea, para onde se transferiu na época 2003-04 por uma soma de 20.000.000€, e demonstra ainda a constante obsessão de Perez com o ataque e a falta de conhecimento que Perez tem relativamente ao jogo, quando este exige a Makélélé para pegar na bola e avançar com ela pelo terreno, passar os adversários, sem qualquer preocupação táctica, esquecendo-se que Makélélé é um trinco, que tem como principais características o posicionamento e a recuperação de bolas.
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