sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

(Demasiado) Elevados salários para dirigentes?


Em inícios de Novembro, o jornal The Guardian publicou o salário de uns quantos dirigentes ingleses, de onde se destacam Peter Kenyon (director-executivo do Chelsea), David Gill (director-executivo do Manchester United, que curiosamente sucedeu a Kenyon na função, quando este saiu de Old Trafford, em direcção a Stamford Bridge) e Daniel Levy (dono e presidente do Tottenham). Como em todas as vezes que se fala nos altos salários atribuídos aos mais diversos agentes envolvidos no desporto-rei – desde jogadores a dirigentes, passando por agentes e técnicos, entre outros – a revolta e a polémica é geral e está sempre presente. Como tal, esta não foi excepção. Há de haver sempre alguém, não nos enganemos, que se insurgirá contra os altos vencimentos que são movimentados no “Mundo da Bola”. O que se esquecem, muitas vezes, é que se um clube, como o são os casos do Real Madrid e Man Utd, por exemplo, chega ao fim do ano com receitas superiores a 300 milhões de euros, onde se incluem as receitas referentes às transmissões televisivas, ao merchandising, etc, este tem dinheiro para atribuir os salários que muito bem entender (claro que dentro das suas possibilidades), ou seja, se depois de todos os gastos do clube sobrarem 100 milhões para salários, por exemplo, o clube tem toda a legitimidade para distribuir esses 100 milhões como muito bem o entender. Apenas atrás de Beckham, que está a receber 25 milhões de euros/ano, num contrato de 5 anos que perfaz um total de 125 milhões de euros, é Zlatan Ibrahimovic quem recebe o maior vencimento anual entre os jogadores de futebol, vendo a sua conta crescer em 950.000€ a cada mês que passa, chegando ao fim do ano com mais 11,5 milhões de euros, relativamente ao ano anterior, isto, claro está, sem contar com receitas extra, como a publicidade. Pois bem, isto só reforça a minha ideia: mais dinheiro, maiores salários. Há um ano e meio foi o LA Galaxy a cometer a “loucura-Beckham”, agora para os jogadores associados ao Manchester City já se fala em salários de 18 milhões caso sejam contratados, como aconteceu com Ronaldinho…A minha ideia pode parecer normal, banal e até repetitiva, mas é, de facto, incontestável. Pode-se reflectir sobre o dinheiro que envolve o futebol, numa perspectiva económica e social, pode-se “exigir” que os jogadores e todos os agentes que no futebol participam dêem o seu contributo à economia, ao Mundo, através da doação de verbas para causas solidárias, porém para quê a eterna questão do “porquê é que uma pessoa que só sabe dar pontapés na bola, ganha tantos milhões quando milhões de desgraçados estão todos os dias a morrer à fome sem um único centavo para comer?”. Já se sabe que é assim, porém não há muitas questões a colocar face a este cenário que atrás expus, e que corresponde à actualidade do futebol, a de movimentar milhões de euros. Não me querendo alongar muito mais neste assunto, regresso à questão dos salários dos dirigentes ingleses, que deu o mote para o expressar da minha opinião no que às verbas que envolvem o futebol, salários, neste caso, diz respeito. Peter Kenyon (Chelsea), lidera a lista com um vencimento de 2.320.000€/ano, segue-se David Gill (Man Utd), com 1.800.000€/ano, Richard Scudamore, da Premier League, com 1.470.000€/ano, Rick Parry (Liverpool FC) auferindo 1.360.000€/ano, Daniel Levy (Tottenham Hotspur), com 1.160.000€/ano, Brian Barwick da FA (Associação de Futebol Inglesa) com 800.000€/ano, Keith Wyness (Everton FC) com 570.000€/ano, Allan Duckworth (Bolton Wanderers) com 510.000€/ano, Jeremy Peace (WBA) com 375.000€/ano e, por fim, a encerrar a lista dos 10 mais bem pagos, Alister Mackintosh (Manchester City) com 355.000€/ano. Gostaria de deixar bem patente nesta postagem a minha opinião de que os dirigentes são fundamentais no sucesso de um clube, uma vez que fazem parte da estrutura do clube, porém não se limitam a fazer parte desta, como também a pensar a mesma e, como tal, a legitimidade de também eles auferirem grandes vencimentos é, quanto a mim, total. São os dirigentes que pensam toda a equipa, sua imagem,… e quanto mais alto hierarquicamente, mais importância tem o dirigente. Assim, e a título de exemplo, não terá Pinto da Costa toda a legitimidade de receber 2/3 milhões de euros por época? Afinal de contas, foi ele o principal responsável por todo o sucesso do FC Porto nos últimos 25 anos. Rui Costa terá ou não toda a legitimidade de receber 1/2 milhões de euros por época daqui a 5/6 anos caso se verifique o retorno (títulos) de todo o seu investimento? Ou, se quisermos pegar num exemplo inglês, Peter Kenyon. Juntamente com Roman Abramovich, Kenyon é o grande cabecilha deste Chelsea, desde o do Chelsea “de Mourinho”, é ele que pensa a equipa, trata das contratações, dos contratos, entre outros. Afinal de contas, são os dirigentes que “pensam em tudo”, enquanto que os jogadores, por sua vez, se limitam a jogar, a profissão do dirigente, seja ele qual for, é a de estar, constantemente a pensar na equipa, a de estar constantemente à procura da tranquilidade e estabilidade na equipa. No caso do director-desportivo, por exemplo, como é que isto se consegue? Estando constantemente a manter os jogadores satisfeitos, certificando-se que o ambiente no grupo é bom, protegendo a equipa de interesses exteriores e interiores (estes últimos que poderão mesmo, porventura, nem existir, caso a gestão praticada no clube seja bastante boa e que é meio caminho andado para o sucesso, o tal bom funcionamento interno), renovando os contratos atempadamente para que não surjam rumores de possíveis transferências que só prejudicam a tranquilidade do grupo, dando, de preferência, e se possível, bons contratos para aumentar a motivação e o estado de espírito do jogador (o que irá, por sua vez, e inevitavelmente, contagiar o grupo), etc. Ora bem, tudo isto que acabei de enumerar, são factores que um director-desportivo deve ter em conta, sendo que outros directores de outros departamentos são igualmente importantes, na medida em que todos contribuem para o mesmo fim, o bom funcionamento do clube. Se cada um se empenhar em cumprir competentemente o seu trabalho, então não tenho a menor dúvida que o clube atingirá o sucesso desejado. Por tudo isto defendo que os salários dos dirigentes não devem ser postos em causa, bem como o seu trabalho que, espera-se, é real e bem mais complexo do que aparenta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que há sempre alguém que considere uma afronta os montantes pagos pelos clubes a alguns iletrados que nada mais sabem fazer que pontapear o esférico, é uma realidade...
O signatário é autor duma msg, publicada em diário lisboeta de grande tiragem, no dia 31.12 último,
na qual considera um insulto, para dez milhões de portugueses, as elevadíssimas remunerações auferidas por tal gente.
E mais ainda, sublinha o ultraje - de muito maior gravidade- o facto de, em sede de IRS, aqueles cavalheiros não serem taxados pela pauta máxima ( 42% ).
E ofendidos são os milhões que, durante uma vida inteira de trabalho, não conseguindo fugir a um cêntimo no imposto. se confrontam, ainda, com uma pensão de miséria, nos últimos anos da sua existência....
Que os clubes, como entidades privadas, paguem esses vencimentos fabulosos, é lá com eles ( mais tarde, ou mais cedo, acaba a mama e vão à falência...), mas que escamoteiem, omitam, falsifiquem documentos de modo a que esses profissionais, maioritàriamente, incultos, que se pavoneiam em viaturas de preços exorbitantes, vivem em luxuosíssimas mansões, dispendem numa noite autênticas fortunas em farras de grande alarido na imprensa mundial,fujam ao Fisco, aí reside a verdadeira afronta......
JA