Hoje joga-se a final da Taça do Rei, entre Barcelona e Atlético de Bilbau, às 9 horas da noite (não será transmitido em nenhum dos canais portugueses). Não haja dúvidas, o Athletic é um clube único, não só porque mantém as suas camisolas ausentes de publicidade (atitude acompanhada pelo Barcelona que apenas modificou o seu comportamento para fazer publicidade a uma instituição de caridade – UNICEF – há dois anos), mas, este sim é o motivo de grande orgulho para os adeptos bascos: só admite jogadores bascos na equipa. Pois bem, até aqui “nada de mais”, não fosse o Athletic um dos mais históricos e prestigiados clubes de Espanha: 4º clube com mais títulos do Campeonato Espanhol – 8 vezes campeão e 7 vice-campeão –, apenas superado por Real Madrid, Barcelona e Atlético Madrid; 24 vezes campeão da Taça do Rei; 1 vez vencedor da Supertaça Espanhola (nesse ano, 1984, venceu a Liga, a Taça do Rei e a Supertaça) e finalista vencido da Taça UEFA no ano de 1977. Relembro: tudo isto (só) com jogadores bascos! É certo que, há medida que os anos foram passando, os títulos foram diminuindo (já não ganha uma Liga há 25 anos), muito por culpa da globalização, que passou a levar grandes nomes para o resto dos clubes e, por conseguinte, a política seguida pelo clube não deixa de ser, no mínimo, discutível – valerá mesmo a pena? Não deixa contudo, de ser uma conquista e um orgulho enormes o simples facto de todos pertencerem àquela região de Espanha, facto que, porventura, encherá os seus adeptos muito mais orgulhosos do que se fosse um clube que vencesse regularmente a La Liga e reunisse no seu plantel jogadores oriundos de diversos países. Para falar do clube, arranjei como pretexto o jogo de logo à noite: no treino de há quatro dias atrás, mais de 18 (!) mil adeptos juntaram-se para assistir ao treino dos leões, como são conhecidos por nuestros hermanos, em S. Mamés (local onde a equipa treina), após garantida a permanência na 1ª divisão (encontram-se em 11º lugar) e perante ambiente de euforia face à final de hoje frente a um dos clubes mais poderosos do momento e…de sempre! Feito nunca visto em Espanha e, muito provavelmente, no Mundo, se formos a investigar se alguma vez aconteceu e qual a data do acontecimento tenho mesmo dúvidas que levemos a investigação a bom porto. Recordo agora o texto escrito por Valdano, aquando da confirmação da passagem à final da Taça por parte do Athletic, homem que conseguiu dar continuidade à sua classe nos relvados na escrita e, provavelmente, o escritor desportivo que mais aprecio actualmente: os seus textos são verdadeiras pérolas! Aqui fica o excerto da sua crónica que, todos os sábados, é publicada no jornal A Bola, intitulado “Athleeeeeeee-ti” (7 de Março de 2009):
O Athletic Bilbao validou a sua política e desafiou o novo futebol esmagando o Sevilha e alcançando a final da Taça do rei. Jogar só com jogadores locais é como meter-se numa batalha com espadas de madeira. Mas não é só a arma que conta, é também o orgulho que lhe dá vida, a paixão que a faz afiada, a identidade que envolve todos em redor de um projecto único. O Athletic Bilbao opõe o próprio ao diverso e esses valores promovem uma fantástica emoção. Tudo isso, quarta-feira, alcançou quotas incríveis. Os 11 futebolistas do Sevilha nada conseguiram fazer porque jogaram contra milhares. O heróico é que esses milhares jogam contra milhões que crêem na globalização do futebol. E resistem.
Palavras para quê?
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