Numa altura em que se começa a perceber que o Porto ganha cada vez mais títulos e o Benfica cada vez menos, é inevitável a questão: irá o clube nortenho ultrapassar, no que a Campeonatos Nacionais concerne, aquele que foi já um clube de classe mundial, classe essa nunca atingida por qualquer outro clube português até à data e muito dificilmente atingível? Numa altura em que em Inglaterra, o Manchester United acabou de alcançar o número de Premier Leagues do Liverpool (18) e está a apenas 6 títulos de alcançar os reds no que ao palmarés, no seu todo, diz respeito (58/64). Ora bem, isto há 15 anos seria impensável, mas o que é facto é que a excelente gestão do clube de Old Trafford e a competência que habita nos seus quadros o permitiram. E é o que eu vejo estar a passar-se com o Porto. É essa constante aparição em fases finais de competições europeias, taças, lugares cimeiros de campeonatos, …toda esta fome de vitórias e títulos que vejo o Manchester e o Porto terem, salvaguardando as devidas proporções – que se prendem com o orçamento, ritmo competitivo, etc. – e que clubes como o Liverpool e o Benfica, por exemplo, vieram a ter cada vez menos ao longo do tempo, pelas cada vez mais derrotas e, o gravíssimo problema, pelo inconformismo perante as derrotas. Aqui reside o grande problema e, como isto de ganhar e perder tem a ver com a atitude de cada clube, também não é menos verdade que as vitórias e derrotas provêm de ciclos viciosos. Assim, derrota puxa derrota e vitória puxa vitória, não só pelo lado motivacional da vitória e da derrota, mas pelos prémios monetários oferecidos aos clubes ganhadores, pelo envolvimento dos adeptos, pela atracção de jogadores com classe cada vez mais superior, etc. Está tratada a questão da mentalidade vencedora de um clube, que tanta mística tem tirado ao Benfica nos últimos (largos) anos. Gostaria também de falar agora de outro ciclo vicioso (porque, não nos enganemos: o futebol, como muitas outras áreas profissionais, como a vida, vive de ciclos): as novas gerações. Há cerca de 2 meses saiu um estudo que afirmava que as crianças são cada vez mais adeptas do Porto, em detrimento dos outros grandes do país (Benfica e Sporting). É certo e sabido que o Benfica é o clube com mais adeptos em Portugal, porém tal facto fica a dever-se à história do clube, aos títulos ganhos, aos grandes momentos vividos pelos seus adeptos, …o que acontece com naturalidade é que as novas gerações, ao assistirem a uma mudança de clube dominante no país, a um(s) novo(s) clube(s), tendem a mudar de cor, mesmo que em causa esteja quebrar a tradição da família. Porque já se sabe que é assim. E é natural: um miúdo de 14 anos que se habituou, em toda a sua vida, a ver o Porto vencer uma Taça UEFA (prova rainha do futebol mundial), Liga dos Campeões (prova rei do futebol mundial), uma Taça Intercontinental, entre tantos outros títulos internacionais, bem como 11 dos 14 campeonatos disputados, por exemplo, pode ter a tentação de mudar de clube, pois as crianças tendem a ser do que “ganha mais”. A juntar a tudo isto, de complementar que, entre as crianças se encontra outro factor, o multiplicador, assim as crianças tendem a ter, também, um clube comum entre o seu grupo de amigos, clube esse que, não é difícil de adivinhar, será, muito provavelmente, o Porto, tendo em conta que, nas últimas duas décadas o Porto tem sido o clube dominante a (quase) todos os níveis e tem merecido (quase) todos os títulos que tem conquistado. Toda esta conversa, para tentar demonstrar a total naturalidade deste estudo (que não trouxe nenhuma novidade, pelo menos a mim) e dizer que é cada vez mais difícil parar estes clubes ganhadores, habituados a ganhar sempre, a cada ano que passa: atenção, contudo, ao facto de o futebol ser constituído por ciclos, existindo fases ganhadores, mas também perdedoras, pelo que é extremamente difícil (para não dizer impossível) estar décadas a fio a dominar o futebol – só acontece mesmo em campeonatos de dimensão muito reduzida, onde a competição é quase desleal – e, por conseguinte, o mérito dos clubes estar em prolongar o máximo de tempo possível as fases ganhadores e reduzir o menor tempo possível as perdedoras. Mais preocupante para os rivais do clube de Pinto da Costa do que as vitórias presentes são tudo o que isso implica, as tais vitórias invisíveis, que falava Quique sobre grande parte do seu trabalho, baseadas na cada vez maior movimentação de massa associativa em torno do clube e tudo o que isso implica – receitas, qualidade, resultados e por aí fora, mas, o mais importante de tudo: grandeza. Resposta à pergunta inicial: É bastante possível…
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