A abrir o último grupo, o Chile tomou conta do recado e levou de vencida as Honduras, por 1-0. Pessoalmente, simpatizo bastante com o Chile. Gosto de muitos dos seus jogadores, seniores e jovens, e por eles estou a torcer para que façam um bom campeonato.
Jogadores como Vidal, Matías, Sánchez e Valdívia, só para citar alguns encantam-me. Cada um ao seu estilo mas todos com um denominador comum: técnica acima da média, pés dotados que lhes permitem marcar a diferença.
Com Loco Bielsa desde 2007 a comandar os diversos escalões do Chile, La Roja entrou em campo num 4-3-3, diferente do 4-2-3-1 utilizado na qualificação. Com o goleador Suazo no banco, a escolha para matador recaiu no mágico Valdívia, que é um verdadeiro 10 e nunca um 9, e como pensador encontra-se Matías (foi dele o passe de ruptura para Isla oferecer a Beausejour). Na ala, um jogador que adoro: Alexis Sánchez. Abana com o jogo, é irreverente, habilidoso, sempre disposto a colocar os opositores em alvoroço com slaloms de trocar as voltas a qualquer um. 21 anos apenas, 1,68m, é mesmo estrela!
A equipa das Honduras é claramente favorita a não passar da fase de grupos, pois até tem alguns bons jogadores, mas é sem dúvida a equipa sul-americana mais fraca em prova, com apenas 3 jogadores na alta roda europeia (Alvarez, Palacios e Figueroa). Não consigo também alcançar o porquê de Suazo não jogar nesta equipa, para além de motivos disciplinares, pois Suazo seria, a jogar, o elemento provavelmente mais influente da equipa.
De resto, esta equipa mistura um pouco veteranía com juventude, tanto tem jovens de 34 como de 23 anos, mas quer uns quer outros, muitas vezes, sem a tal experiência da alta roda que cada vez tem uma maior importância em competições deste estilo.
Espanha 0 – Suíça 1
A vez da Grande Espanha chegou às 3 da tarde. Que espectáculo! Esta Espanha é mesmo um hino ao futebol. A maneira como trocam a bola, como vêm com ela com posse em progressão, com Puyol a proteger as costas do Piqué, o primeiro homem da transição defesa-ataque. O jovem Busquets substituiu o “velhinho” Senna (enormíssimo jogador, fundamental em 2008) e à frente do talentoso produto blaugrana, estão Xabi Alonso (que rematão à barra) e Xavi, já reconhecido por todos como um dos melhores do Mundo. Iniesta, à esquerda, confere uma maior liberdade táctica à equipa, uma vez que, por vezes efectua diagonais para o centro do terreno, e obriga a que um dos médios-centro cubra a sua temporária ausência, ou seja, confere outra dinâmica táctica à equipa. Ele e Silva mantém-se desde os tempos de Aragonés, apenas com a mudança natural de um 4-4-2 para um 4-3-3. Mudança esta que obriga Villa a estar sozinho lá na frente.
Apesar de adorar esta Espanha, não tenho dúvidas nenhumas, a melhor selecção em prova, confesso que gostava mais da de 2008. Jogava em 4-1-3-2, com Xavi a fazer o transporte do meio-campo defensivo para o ofensivo, sendo Senna o homem que lhe permita tais ousadias. Na direita Silva, na esquerda Iniesta, mas na frente, Villa e Torres. Aqui sim está a grande diferença, a Espanha de 2008, não necessitava de 3 médios a meio-campo, bastava-lhe 2 e a máquina carburava tão bem ou melhor. Já na frente, e isso foi notório no jogo de hoje, estavam 2 temíveis: Villa e Torres. Agora só lá está Villa, que falhou uns quantos (bons) golos e, quando entrou El Niño, nada lhe saiu bem como costuma, por nítida falta de entrar de início, estar lá aquando do apito inicial.
Parabéns á Suíça, que actuou em 4-4-2 clássico e apostou no veterano Nkufo e no talentoso Derdiyok que na sua primeira época na Bundesliga em 3 jogos marcou 1, a uma média de 0,68 golos/jogo.
Na esquerda do meio-campo, não estava um extremo estilo Barnetta, mas sim uma adaptação táctica: Gelson Fernandes, trinco do Saint-Étienne. E foi ele que acabou mesmo por marcar, num lance atabalhoado.
Que mais poderei dizer do jogo em si, se não que a Espanha teve a bola durante 42 minutos (63%), em contraste com os 25 da Suíça (37%); rematou 24 vezes, 8 à baliza, do lado da Suíça 3 de 8 foram à baliza; a Suíça fez quase o triplo de faltas (sim, são mesmo necessárias para tentar abrandar o ritmo espanhol): 21/8. Penso que as estatísticas do jogo ilustram bem quem é que jogou e melhor e lá está, são dos tais jogos que acontecem de quando em quando – não esquecer que, à partida para este jogo, nos últimos 48 jogos da selecção espanhola, esta apenas tinha perdido uma vez (45 vitórias), nada de euforias, portanto.
África do Sul 0 – Uruguai 3
No primeiro jogo da segunda ronda, os caseiros receberam a visita dos uruguaios, liderados em campo por Lugano.
Tabarez mexeu na táctica e trocou um 5-3-2, que se transforma num 3-5-2, por um 4-3-3, avançando com Fucile para o lugar de Álvaro Pereira, passando este para o meio-campo e entrou Cavani (avançado) para o lugar do central Victorino.
E o que é facto é que Forlán melhorou substancialmente a sua performance, mesmo sem que Cavani tenha feito grande exibição, longe disso. Suarez idem. Sem dúvida que a aposta foi ganha, quanto a mim. A equipa melhorou sem qualquer tipo de dúvida com esta alteração táctica.
Da parte dos caseiros, esperava-se um Piennar acima de quase nada, mas este manteve o mesmo rendimento, Tshabalala, esperava-se que se mantivesse como uma das surpresas da prova, com um rendimento ao nível da estreia. Errado (mérito de Maxi também, obviamente). Muito apagado assim como Modise. Face a este cenário difícil seria que Mphela jogasse mais.
Atrás, Letsholonyane também esteve abaixo do esperado e Dikgacoi e Gaxa demonstraram serem bons jogadores. E com essa ideia tinha já ficado do primeiro jogo, ainda mais de Gaxa, lateral que sabe atacar e defender com semelhante qualidade. Consistente, é difícil passar por ele – neste caso era Cavani o opositor directo, que foi bem anulado.
Mais uma vez (a fé é inabalável…) as minhas esperanças de bom futebol estavam centradas no conjunto laranja. Mas a verdade é que a Holanda esteve longe de surpreender, ainda para mais quando tinha como cartão-de-visita o último particular disputado diante da Hungria, equipa que complicou as contas a Portugal na fase de apuramento e ainda mais à Suécia e que foi levada de vencida por 6 bolas a 1.
Enfim, boas jogadas com um tridente temível no meio campo ofensivo: Van der Vaart, Sneijder e Kuyt, sendo que quando Robben estiver apto ainda mais temível será com a presumível troca com Van der Vaart. Boas jogadas essas que se tornam inofensivas quando a equipa entra na área, uma vez que eficácia foi palavra proibida pela Dinamarca. Se não tem sido o auto-golo, podia-se esperar mais um 0-0 ou, com sorte, um 1-0.
De Jong é muito bom jogador mas recorre muito à falta e só não foi expulso porque nestas coisas prima quase sempre o bom senso da protecção ao espectáculo, exigido pelos faltosos e criticado por aqueles que em nada beneficiam de tais opções dos juízes.
Chave desta equipa é também Van der Wiel (estive para escrever sobre ele este ano, acabei por não o fazer mas ainda vou a tempo), lateral-direito de apenas 22 anos com carimbo Ajax. Para mim, já se encontra no top 5 dos melhores na sua posição, sendo que não tenho dúvidas nenhumas que continuará a subir na escala se der continuação ao seu trabalho, potenciando todos os seus atributos: lateral ágil, veloz, rápido, com boa capacidade atlética, sobe muito bem pelo flanco, apoiando o meio-campo e integrando-se em acções ofensivas. Cruza ainda de maneira superior e tem boa técnica.
Não falei ainda de Van Persie, mas dispensa apresentações: jogador de fino recorte técnico, com um pé esquerdo ao alcance de poucos. Não será, no entanto, uma mais-valia para a selecção se não melhorar a sua eficácia de finalização, uma vez que neste momento, na selecção, não tem ninguém a seu lado para lhe dar o apoio de que por certo gostaria. Acredito que melhorará este aspecto daqui para a frente, pois trata-se de um grande jogador e a entrada de Robben, elemente muito ofensivo, trará mais opções ofensivas à equipa, que resultarão em mais oportunidades de golo.
No lado da Dinamarca, foi um companheiro de Dirk Kuyt a fazer a diferença. Daniel Agger, central esquerdino do Liverpool, que teve o mérito de impedir umas quantas acções ofensivas da Holanda, com o seu desarme superior.
Já na frente, o já veterano Rommedahl (31 anos, pensava que tinha mais, tal a idade com que apareceu na ribalta…) continua a fazer as delícias. Quase não perdeu velocidade (se perdeu, continua com muita!) e tem técnica para colocar a defesa holandesa em ordem, tendo um pormenor – um slalom – delicioso. Assim dá gosto!
Por falar em companheiros, os homens-golo de ambas as selecções são colegas no Arsenal (Bendtner e Van Persie). Nicklas Bendter tentou a sua sorte, nomeadamente através de um cabeceamento, mas também não estava nos seus dias.
Nota positiva também para Enevoldsen, jovem médio do Groningen que sabe que este Campeonato é uma grande montra e mostra vontade de contribuir para a vitória, tendo várias iniciativas ofensivas interessantes.
Japão 1 – Camarões 0
No início da tarde foi a vez do Japão defrontar os Camarões de Eto’o.
E a verdade é que o Japão se portou muito bem, jogando sempre de peito aberto, numa equipa formada por apenas 3 “estrangeiros”: Honda (CSKA Moscovo), Matsui (Grenoble) e Hasebe, o capitão (Wolfsburg). Quem mais me impressionou neste jogo foi mesmo Matsui. Excelente jogador, muito consistente, o 8 japonês tem já 29 anos mas pode ainda fazer 4 ou 5 anos ao mais alto nível: joga bem com os dois pés, tem técnica e com o seu metro e 70 faz a cabeça em água aos adversários.
Papel importante nesta equipa oriental tem naturalmente Honda, dos mais experientes da equipa (o talentoso médio joga fora desde os 21 anos – 3 época no VVV-Venlo e desde Janeiro por terras russas), alterando entre as alas, trocando com Matsui e com Okubo, ficando momentaneamente na posição 9.
De relembrar que o golo da vitória e único do jogo foi feito pelos dois – grande jogada de Matsui, simulando o centro com o pé direito e cruzando eximiamente para a cabeça de Keisuke com o esquerdo.
Obviamente que também Hasebe, em conjunto com 2 centrais experientes, tem uma importância extrema, pois é ele quem tem a responsabilidade de equilibrar a equipa.
Do outro lado, uns muito frágeis Camarões, Le Guen apercebeu-se que poderia encostar Eto’o à faixa, sacrificando-o a exemplo do que faz no Inter, mesmo em maior escala, contudo, no Inter Eto’o tem condições que nunca terá actualmente na sua selecção, o que também ajudou a fazer com que mal se tenha feito sentir no jogo.
Apresentando um 4-3-3, os Camarões não incomodaram, nem nada que se parecesse, o Japão como deviam e podiam.
Olhemos para o meio-campo: jogou Makoun e o jovem Matip, avançado um pouco no terreno estava Enoh.
Problemas que possam existir entre jogador e treinador à parte, Alexander Song, fica muito melhor do que o ainda desconhecido Matip. E Enoh joga no Ajax como tampão da equipa, lembrando um novo Makelele a surgir e na selecção joga, como referi, como o homem mais avançado do trio do meio-campo.
Mbia encontra-se a lateral-direito no papel, mas só lá vai em caso de necessidade, pois procura sempre atacar e incorporar-se no meio-campo, dando liberdade às subidas de Eto’o.
Um jogador que muito aprecio é Assou-Ekotto, jogador muito rápido, que gosta de atacar, mas é sempre seguro a defender, sendo também detentor de boa técnica. Penso que é uma mais-valia desta selecção.
O 9 Webo esteve também muitos furos abaixo do exigido.
Itália 1 – Paraguai 1
Primeiro Golias a ser derrubado pelo David Paraguai.
Tacticamente muito simples, jogando num 4-4-2 clássico, o Paraguai tenta surpreender através de 2 avançados muito móveis, Lucas Barrios e Nelson Valdez, dois centrais fortes (Paulo da Silva e Alcaraz, este último jogador do Beira-Mar durante 4 temporadas e meia) e restantes elementos, todos muito modestos, dando a impressão de que se trata de uma boa equipa não formada por 5 ou 6 nomes sonantes mas sim conjunto humilde que faz da entreajuda e vontade de causar sensação a sua grande arma, uma vez que se é verdade que tem muitas e boas opções na frente de ataque, todas elas conhecidas (Cardozo, Santa Cruz, Lucas, Valdez e, ainda, o injustamente castigado Salvador Cabañas, que a poucos meses do começo do campeonato levou um tiro e se encontra ainda em processo de recuperação), o mesmo não acontece nos restantes sectores.
Para tentar evitar surpresa desagradável, que acabou mesmo por acontecer, a Itália apostou num 4-2-3-1, com De Rossi como destruidor e Montolivo como um jogador mais criativo. Com Pirlo lesionado, a aposta recaiu sobre o médio da Fiorentina e para o lado esquerdo do tridente ofensivo, a meio-campo, Lippi apostou em Iaquinta. Péssima opção, quanto a mim, uma vez que as características de Vicenzo são de um matador. Tanto assim é que, já na segunda parte, Lippi mexeu na equipa, trocando Marchisio, a jogar a 10 por Camoranesi, encostando este último ao flanco esquerdo e puxando Iaquinta para o lado de Gilardino, transformando a squadra azzurra num 4-4-2. Opção bastante mais sensata. Percebo a tentativa falhada de render Marchisio, apostando na táctica inicial, mas Iaquinta naquela posição é que não. Camoranesi poderia muito bem ter lá alinhado de início. Muito bom jogo fez Simone Pepe (já contratado por empréstimo pela Juve), sem medo de partir para o um-para-um, realizando diagonais, tentando o remate e surgindo flanco oposto no início da segunda parte, para tentar surpreender o adversário (característica, aliás, muito notada neste Campeonato).
Cannavaro começa a perder muitos duelos individuais e Criscito teve uma má actuação.
De notar ainda que ambos os golos surgiram através da marcação de lances de bola parada, com erros defensivos a apontar a cada uma das equipas. No caso italiano, uma falha na marcação à zona, com a equipa a defender um pouco à frente do suposto, e permitindo a entrada fulminante de Alcaraz. No caso do Paraguai, uma marcação homem-a-homem mal feita foi fatal (e que raspanete tem de levar Lucas, de costas para a bola!!!).
Na baliza, esteve Quim (2700min), único totalista na Liga, a proteger as redes encarnadas, a permitir que estas fossem, a par das do Braga as redes menos ousadas pelos avançados adversários. Guardião destemido, experiente e com 6 anos de casa e mais de 370 jogos na 1ªLiga. Sempre se fala de reforços para a baliza, falando-se dela como elo mais fraco, tem estado sempre lá Joaquim da Silva fazendo ver que se calhar não é bem assim como tanto se diz e escreve.
Júlio César, guarda-redes de confiança de Jorge Jesus, ficou encarregue de manter a baliza inviolável na Liga Europa, sendo um dos protagonistas da equipa – estou-me a recordar de uma defesa contra o Marselha, em casa, importantíssima na resolução dessa eliminatória – oitavos-de-final – a dois tempos, voando para trás e atirando a bola para longe.
Missão mais ingrata teve Moreira, querido entre as hostes benfiquistas, não tanto como deveria mas ainda assim muito querido, ao ficar com a função de defender a baliza na Taça de Portugal. Missão que se tornou ingrata pois um cabeceamento fatal de Lazarettiditou o afastamento precoce da equipa cuja casa dá pelo nome de Estádio da Luz.
Contudo o mérito de manter a baliza tantas vezes inviolável – com média de 0,(6) golos sofridos por jogo – não toca apenas a Quim. A verdade é que à sua frente estavam Fábio Coentrão (1807min), principal revelação da Liga, que cedo ganhou o lugar a Shaffer, ao início intercalando com César Peixoto, depois, com o passar do tempo, a ganhar o lugar (ficou totalmente ganho aquando da lesão de Peixoto, na rota final do campeonato. Com o seu lugar de raiz – extremo-esquerdo – a pertencer a Di María, Jesus arranjou uma boa maneira de dar tempo de jogo a um esquerdino que fez as delícias dos adeptos, colmatando as suas lacunas defensivas, próprias de quem não está rotinado à posição, com a sua garra e velocidade. Muito mérito de Coentrão que foi sempre muito cumpridor, que percebeu em todos os momentos que não se poderia comportar como Amorim quando este joga na direita, uma vez que este sabeque pode, de quando em quando, subir no flanco, tendo em Ramires um colega para fechar atrás. Contudo, toda a gente sabe que o forte de Di María está mesmo em atacar, descurando quase na sua totalidade, em jogo corrido, as missões ofensivas.
Uma palavra para César Peixoto (912min) que, sempre o disse, apesar de destoar dos demais jogadores do Benfica, da grande maioria deles, foi sempre um jogador extremamente cumpridor, que com as suas limitações, pouco comprometeu e deu um contributo valioso à equipa.
Na outra faixa, está Maxi Pereira (1964min), o uruguaio endiabrado, daqueles que dá tudo o que tem ao longo dos 90 minutos, e o que não tem. Na minha opinião, tendo em conta as últimas 3 épocas, Maxi encontra-se entre os melhores e mais regulares jogadores do Benfica. Trata-se daqueles jogadores raçudos com quem se podem contar ao longo do jogo e raramente compromete, subindo bem na faixa.
Na sombra, temos Ruben Amorim (1361min), o mais polivalente da equipa, tendo já actuado à direita e ao centro do meio-campo e passando esta época, quase na sua totalidade, à direita da defensiva. Jogador extremamente cumpridor que tem o mérito de fazer esquecer (penso que até mais que Coentrão, neste aspecto) os adeptos, que se trata de um médio puro. E penso que é o melhor elogio que lhe posso fazer. É um jogador extremamente útil. E a simples prova disso é que nunca se queixa por jogar a lateral-direito, apesar de ser, como o próprio já deixou transparecer nas suas palavras, médio. E todas as suas características apontam nesse sentido: jogador raçudo, com leitura de jogo, excelente passe e boa meia-distância. Encontra-se no leque de jogadores que agradam, e muito a Jesus, juntamente com Peixoto, Júlio César e Weldon, jogadores contratados a pedido do treinador.
No eixo da defensiva, uma dupla de centrais como há muito não se via na Luz, a dar continuidade à tradição benfiquista de ter grandes centrais brasileiros. Luisão (2520min), vai já na 7ª temporada de águia ao peito, começando-se já a colocar a hipótese de terminar a carreira no clube onde chegou em pleno Verão de 2003. A verdade é que Luisão é dos elementos deste Benfica mais influentes, pois se é verdade que Cardozo ou Di María, por exemplo, fazem a equipa ressentir-se, e muito, quando não estão presentes, pela sua capacidade ofensiva tremenda, não é menos verdade que faltando Luisão a equipa se vê muito desamparada, uma vez que o Girafa, como é carinhosamente apelidado pela imprensa, é a voz de comando da equipa. Sub-capitão, o central foi o capitão da equipa dentro de campo ao longo de toda a época, uma vez que a sua titularidade e a não-titularidade do capitão Nuno Gomes, assim o ditaram. A voz de comando de Luisão e o seu excelente posicionamento em campo, passando o jogo a organizar a equipa de trás para a frente, dão-lhe com toda a naturalidade o estatuto de imprescindível da equipa.
Como atrás referia, o eixo é constituído por dois e não por um jogador, pelo que, num complemento como há muito não se via na Liga Portuguesa, a voz de comando e experiência de Luisão, encontrou esta época em David Luiz (2610min) a velocidade e a irreverência que faltam ao internacional brasileiro (40 internacionalizações A). Tendo mesmo sido esta a época da consagração de um jogador que desde que chegou à Luz cedo se mostrou como detentor de um grande talento. O certo é que, por uma situação e por outra. Ao início tapado por jogadores mais experientes e já para o fim actuando fora da sua posição, na lateral, esta época acabou com a sua consagração como menino bonito da massa adepta. Todos aqueles que ficavam indiferentes ao internacional pelas camadas jovens canarinhas, se é que havia alguém, foram obrigados a dar o braço a torcer. David Luiz, para além da sua classe em campo, a desarmar adversários com facilidade tremenda, impressiona com a sua serenidade com que parte à aventura com a bola colada ao pé, numa investida pelo corredor central desde a defensiva até ao meio-campo, driblando os adversários que lhe aparecerem pelo caminho e só então, quando vê que é muito arriscado continuar, escolhendo com a maior das calmas qual o colega em melhor posição de receber a bola. Ou então, quando se encontra cá atrás e faz um passe, com qualquer um dos pés, para um jogador que se encontra a 40 ou 50 metros, ou ainda quando desmarca um colega com passe a rasgar. Sim….tudo qualidades espectaculares e raríssimas de encontrar num central. Para juntar à sua evidente qualidade, tem uma característica não menos importante, sabe conquistar os sócios como nunca vi um jogador fazer.
Na posição 6, um estreante na Liga, o 1º até agora, Javi Garcia (2225min) de seu nome. Muitas foram as vozes que duvidaram do seu potencial. “Dispensado do Real Madrid…”, diziam com ar desconfiado, muitos desses não levantavam tanto o sobrolho a Saviola que apesar de dispensado do Real Madrid desde há muito é um jogador consagrado no Mundo do Futebol. Contudo, como mais tarde se veio provar, os 7 milhões foram muito bem entregues e, como toda a gente sabe, ser dispensado do Real Madrid não é, nem pouco mais ou menos, sinónimo de má qualidade (vide Robben e Sneijder, dois finalistas da Champions). Jogador forte posicional e fisicamente, confere ao meio-campo da equipa uma segurança acima da média. Com ele em campo não há qualquer dúvida que a equipa ganha um dos seus esteios, uma vez que se trata do jogador que, a meu ver, lhe confere o equilíbrio que ela necessita. Javi é aquele jogador que garante o equilíbrio entre o sector defensivo e ofensivo.
Se é verdade que Javi foi uma aposta mais que ganha, não é menos verdade que o Benfica começou a época com uma lacuna para aquela posição: “quem será o jogador talhado para o substituir em caso de castigo, lesão, ou pura opção?”. Uma questão totalmente legítima, pois, como atrás já referi, Amorim pode actuar no centro do meio-campo, quer mais recuado, quer mais avançado, mas não deixa de ser uma adaptação colocá-lo a trinco, pelas suas características, que são de médio-centro puro, repito. Foi então que, na reabertura de mercado, Jesus, confesso admirador do jogador sul-americano e espectador atento dos principais campeonatos do país, argentino e brasileiro, desencantou da cartola um coelho chamado Airton, jogador que, apesar dos escassos 235min repartidos por 4 jogos, para a Liga, entre os quais o último, onde foi titular em virtude do castigo de Javi, demonstrou já, na minha opinião ser um grande jogador, não tenho qualquer tipo de problemas em afirmá-lo e em elegê-lo como uma excelente contratação. Os 20 anos e o metro e 80 que usa no B.I. podem servir para enganar muitos adversários, mas não os espectadores mais atentos, que depressa verão nele uma maturidade e uma capacidade grandes para a sua idade.
No vértice esquerdo do losango encontra-se o endiabrado Di María (2255min). Há muito que venho defendendo o seu potencial. Entre ditos e escritos, tentei por diversas vezes sensibilizar amigos e familiares para o facto de um jovem cheio de talento como Angelito ter de usar e abusar da finta e, acima de tudo, ter de jogar, pois muito dificilmente será com escassos minutos por jogo que um jovem se impõe num plantel. É daqueles casos em que se pode dizer que o seu pé esquerdo tem capacidade para escrever um livro, tal é o dom que tem no mesmo. O próprio confessara, após o jogo com os gregos do AEK, para a Liga Europa: “Só uso o direito para andar!” – isto depois marcar um golo de letra e antes de tantas e tantas assistências também de letra. A facilidade com que ele, do nada, desmarca Cardozo quando, rodeado por vários jogadores do Olhanense, saca da cartola um passe de letra será uma imagem que provavelmente nunca mais me sairá da cabeça.
Do outro lado do losango encontra-se Ramires (1946min), um jogador soberbo. Daqueles que dificilmente será o mais adorado de todos, contudo aquele que faz tudo bem, quer a defender quer a atacar e detentor de um pulmão inesgotável, que lhe permite ser dos que mais corre na equipa, apesar de ter chegado ao clube sem férias, e depois de 10 jogos pela selecção e 15 pelo Cruzeiro, ter ainda capacidade para disputar 41 pelo Benfica, o que perfaz um total de 66 jogos, tendo ainda sido convocado para o Mundial 2010. Ramires, admito, encontra-se num lote de jogadores que pessoalmente tenho muita dificuldade em descrever tal a sua qualidade. Por ventura já disse tudo, quando afirmei que se trata daqueles jogadores que faz tudo bem – e neste ponto poderia enumerar inúmeras situações onde tem nota positiva o brasileiro, contudo não o vou fazer, pois tudo o que vier dizer a seguir apenas estragar o que já foi dito.
Na posição 10, encontra-se um mago, Pablo Aimar (1699min) de seu nome. Jogador que dispensa apresentações: relançou a carreira na Luz, onde foi recuperado física e animicamente. Onde voltaram a cantar o seu nome no estádio. Jogador de classe acima da média, fica-me na retina como imagem da época 2009-10 sua, o golo que marcou em casa com a Naval, representativo de toda a sua classe. Alguns dizem que já está velho, porém a sua classe, visão de jogo, técnica e passe são características difíceis de perder, pelo menos na próxima década!
Na sua sombra encontra-se também um jogador muito útil à equipa, aquele que, a par de Ruben Amorim, se perfila como «bombeiro de serviço». E não quero com isto subavaliar a capacidade de Carlos Martins (866min), que penso ser muita (pena as suas constantes lesões). Com isto quero apenas relembrar que, quando falta alguém, por motivos de suspensão ou lesão no meio-campo os nomes que surgem à baila são sempre os mesmos dois: Carlos Martins e Rubén Amorim, disputando por vezes um com o outro o lugar. Carlos encontrou no Benfica o reconhecimento da sua qualidade e irreverência que nunca teve no Sporting, e ele sabe disso. Daí os adeptos também gostarem tanto dele. Essencialmente, claro está, por ser um grande jogador, com uma meia distância temível e um passe e visão de jogo acima da média e a somar a isto tudo, claro está, por ter sido formado no Sporting e comportar-se como um verdadeiro benfiquista, que acredito que se tenha tornado, assim como Coentrão (que, apesar de não ter sido formado em Alvalade, quando estava ainda em Vila do Conde, admitiu o seu sportinguismo e dava primazia a uma ida para os leões).
Na frente está o perigoso Óscar Tacuara Cardozo (2411min). Nunca poderá ter a idolatração que o seu jogo merece. O homem responsável pelos golos do Benfica tem sempre missão ingrata – vide Nuno Gomes, o principal ídolo actual, pelo qual os adeptos têm uma autêntica relação Amor/Ódio, tanto ouve uma estrondosa ovação ao entrar, bem merecida por sinal, como um minuto depois está a ouvir palavrões das bancadas. Cardozo é temível na hora de fazer o gosto ao pé e possui um pé esquerdo só equiparado com o de Di María, cada um para a sua função, obviamente. Cardozo é dos melhores marcadores de bolas paradas que passou nos últimos largos anos pelo Benfica, encontrando apenas semelhante executante (na qualidade) em Simão. Está sempre no sítio e na hora certas para fazer o golo. Contudo, mesmo que marque 3 ou 4 golos, no final do jogo os adeptos contestarão o porquê de não ter marcado o 5º e o 6º – muitas vezes, Cardozo tem falhas imperceptíveis como ver a bola a passar-lhe à frente do nariz e não se atirar para o chão para tentar o golo, porém, o que é certo é que ele está lá, quando muitos não estariam. Eu até admito que muitos dos que dizem marcar golos desses, fáceis, o fariam. Contudo, muito provavelmente não estariam lá para verem a bola a passar-lhes à frente do nariz e, muitas vezes, mais difícil do que finalizar a jogada é estar no sítio certo à hora certa – característica que o paraguaio possui, própria de um finalizador nato e que lhe permite não marcar 5 ou 6 mas os 3 ou 4 que lhe deram a Bola de Prata na última jornada, após renhidíssima luta com Falcao.
Num patamar mais abaixo, mas não muito abaixo da complementaridade que há pouco falava que se criou/fortaleceu esta temporada entre David Luiz e Luisão, encontra-se a de Cardozo e Saviola (2089min). El Conejo, baixinho, muito móvel, faz as delícias com a sua capacidade de vir buscar jogo atrás e de vir com a bola pegada ao pé enquanto coloca a língua de fora num sinal que nada mais passa na sua cabeça que não a de colocá-la na baliza ou num colega melhor colocado que o possa fazer. É nesse momento que muitas vezes ocorre uma de duas coisas: procura (nem precisa de procurar muito, pois os dois já jogam de olhos fechados) Aimar e elabora com o seu amigo de longa data duas ou três tabelinhas lindíssimas antes de entrar na área, capazes de deixar toda e qualquer defesa de olhos em bico, ou então procura a sua referência na área, o gigante Tacuara que, para onde quer que vá, leva sempre 1 ou 2 defesas atrelados. Dos melhores do campeonato. Javier Saviola é jogador para jogar em qualquer equipa do Mundo.
Uma palavra para outros campeões menos utilizados, mas que pelo simples facto de terem actuado um minuto que seja, têm direito ao mesmo título:
Shaffer (334min) é um caso imperceptível para quem está de fora, começou a época como titular da ala esquerda da defesa, onde, ao subir no terreno tirava do seu pé esquerdo mísseis guiados com um só destino: a cabeça de Cardozo. E ainda fez uns quantos lances assim, que deixavam água na boca, metiam os adeptos a sonhar quais os adversários e as jornadas que iriam testemunhar mais lances destes. Contudo era comum ouvir-se Jesus, desde a bancada, berrar com ele. “Descurava as missões ofensivas”, disseram e escreveram os media, aceitando sem mais nem quê esta explicação quando se via que ali estava um jogador que prometia, um bom jogador. Uma coisa é certa, digam o que disserem, se Álvaro Pereira tem vindo para o Benfica como tanto se falava em pleno Verão 2009, seria dono e senhor do lado esquerdo da defesa. Felizmente para Coentrão não veio e permitiu ao jovem internacional A português impressionar tudo e todos.
Sídnei (257min) e Miguel Vítor (103min), assim como Roderick, que por não ter chegado a jogar nenhum minuto para a Liga, não pode ser considerado campeão, são todos excelentes centrais e para todos prevejo não um futuro risonho mas muitíssimo risonho, pois considero que a posição para a qual o Benfica está melhor servido, tendo em conta todas as componentes (qualidade, potencial, ….) é a de defesa-central. Contudo, é daqueles casos em que têm dois gigantes a taparem-lhes o caminho…
Luís Filipe, jogou apenas 24 minutos naquele que foi, para mim, o jogo decisivo do campeonato, contra o Porto, onde a equipa desfalcadíssima de Aimar, Di María, Fábio Coentrão e Ruben Amorim não só não deu a oportunidade do Porto lhe dar uma facada no seu próprio estádio, passando-lhe à frente na tabela classificativa (encontrava-se com 2 pontos de atraso), como ainda sofreu uma merecida derrota e permitiu ao Benfica ficar com 5 pontos de avanço sobre si. Luís Filipe jogou menos de meia hora, tendo ainda assim tempo para fazer um potente remate de bem longe que passou rente à barra, contudo é dos poucos jogadores que não tenho grandes dificuldades, pela sua capacidade, de dizer que não tem a qualidade necessária para fazer parte da equipa (aliás, só ficou porque o Maxi começou a época lesionado.
Felipe Menezes (131min) foi contratado numa jogada de antecipação ao mercado, depois de se ter revelado como craque do Goiás no estadual da Gôiania. Actua preferencialmente na posição 10 onde as suas características encaixam verdadeiramente. Vê-se que tem bons pés e visão de jogo. Bom jogador mas encontra-se na mesma situação dos jovens centrais: está tapado por Aimar e Martins. Para além disso, se estes se encontrarem lesionados é provável que Jesus mova Ramires para 10 e Amorim para a direita do losango por exemplo. Quer isto dizer que não se encontra ainda na pole position para ocupar a posição 10 em caso de castigo ou lesão dos 2 jogadores.
Urreta é um caso que me faz espécie, pois é um excelente jogador, com um potencial enorme, como o tem demonstrado tão bem em torneios internacionais, titularíssimo nas camadas jovens do Uruguai, jogador que, a par de Airton (veio do Flamengo, campeão brasileiro), se sagrou campeão em dois países no mesmo ano, juntando o título conquistado no Benfica ao conquistado no Peñarol, onde se encontra emprestado. Faz-me confusão ainda mais, pois sei que Jesus é daqueles treinadores que gostam de seguir esses torneios internacionais, nos quais despontam jogadores com potencial, ele próprio se gaba disso. Contudo, a política do Benfica em relação a Urreta aponta sempre no mesmo sentido: o da constante valorização do jovem internacional para uma futura venda. Para mim teria lugar na equipa do Benfica da próxima temporada, nem que seja para suplente do Ramires, lugar que lhe assentaria que nem uma luva. Seria também um bom sucessor de Di María, não tenho grandes dúvidas. Os escassos 66 minutos que disputou com o Porto, onde foi a cartada de Jesus, elevaram-no, quer se queira quer não, a jogador importantíssimo na conquista do título, pois com tantas baixas, o jogo que realizou, para mim o melhor em campo, penso que mesmo acima de Saviola, autor do golo, foi fulcral na caminhada rumo ao título.
Éder Luís (211min), para ser sincero, ainda não me impressionou nada pela positiva. Mostrou ser um jogador mexido, daqueles que abana o jogo e que até podem ser úteis. No entanto, até agora, penso estar longe de justificar os 4 milhões pagos ao Atlético Mineiro pelo seu passe. Tem ainda outra particularidade, é que, segundo já deixou transparecer e segundo as informações que com ele vieram atreladas do Brasil, é um jogador que pode actuar tanto a segundo avançado como nas faixas e até mesmo na posição 10 se for mesmo preciso. Contudo, em todas elas está tapado. Será difícil jogar já nesta temporada mais do que o fez nesta, mesmo tendo em conta a mais que anunciada saída de Di María.
Weldon (403min), foi a coqueluche de Jesus. Contratado por sua indicação marcou 5 golos, todos eles fundamentais rumo ao título. É um jogador rápido, com finalização apurada. Tendo em conta a relação preço/qualidade, seria difícil ter arranjado melhor (custou 150 mil euros, 30 mil por golo).
Kardec (79min), já aqui tinha escrito, foi também grande contratação do Benfica. Frio na hora de finalizar, e tendo em conta o perfil traçado na contratação de um ponta-de-lança para fazer sombra a Cardozo, Alan Kardec, 21 anos, encaixa que nem uma luva, mesmo tendo em conta a sua idade.
Keirrison (186min): a maior desilusão da época. Vinha rotulado de super craque do Brasil, onde brilhou pelo Palmeiras, sendo responsável por golos em série e pelos 14 milhões que o Barça não teve qualquer problema a dar para o receber e emprestar. Na Luz foi alvo da natural contestação sempre que um jogador não se adapta e coloca em risco os resultados da equipa com sucessivas falhas técnicas. Não se adaptou. Resta esperar para ver se alguma vez se adaptará…
Para o fim fica Nuno Gomes, jogador que, na minha opinião, merecia muito mais oportunidades do que aqueles que teve jogou 205 minutos divididos por 13 jogos, o que não chega a 16 minutos por jogo. Já o digo desde há muito: Nuno Gomes é um excelente jogador, conhece o jogo como pouco e existem poucos melhores que ele para fazer a posição de avançado em 4-4-2, como segundo avançado, uma vez que a idade já pesa e não se lhe pode exigir a agilidade de outrora para estar sozinho lá na frente e resolver jogos. Por vezes, não é que tenham sido muitas, via-se que Saviola não estava nos seus dias, contudo Jesus não apostava em Nuno Gomes. O caso de Nuno Gomes já choca com as preferências de Jesus, assim como Shaffer. O que acontece com Nuno Gomes e daí Jesus o ir colocando a jogar prende-se com o facto de ser um veículo transmissor de mística no balneário e, claro está, qualidade que é impossível negar.