Foi daqueles jogos com 2 jogos completamente opostos dentro de si, digamos assim.
Na 1ª parte, o Brasil surpreendeu tudo e todos, com um futebol criativo, apoiado e muito técnico, condizente com a história da canarinha que apenas em tempos mais recentes vem largando o mesmo e trocando-o, ou pelo menos tentando, por um futebol mais eficaz e menos bonito. A verdade é que não tem tido êxito nenhum, uma vez que os seus jogadores estão preparados e capacitados para juntar a eficácia e o futebol espectáculo na mesma equipa, quanto a mim, e deveria ser considerado crime o que têm feito com a selecção brasileira.
Dizia eu que o Brasil entrou muito bem no jogo, a fazer o seu melhor jogo deste Mundial, devendo muito a Robinho, único jogador que vinha dando o verdadeiro toque brasileiro à equipa, e Kaká, que se mostrou com vontade de progredir e sair do lamaçal de má forma em que se encontra desde há largos meses.
O golo obtido por Robinho veio confirmar isso mesmo, que a selecção brasileira estava preparada para discutir a vitória com uma equipa que se mostra desde o início da prova capaz de grandes feitos. Num grande passe de Felipe Melo a isolar Robinho, a Holanda expôs ao Mundo as dificuldades defensivas com que estava a encarar o jogo, fazendo Robben vir atrás e tentar acompanhar Robinho, quando na verdade esta missão pertencia a Van der Wiel.
Desde o apito inicial que se mostrou inspirada e decidida a não dar hipóteses à Holanda, cortando-lhe todas as linhas de passe, não dando qualquer tipo de hipóteses de jogo ao adversário, pois sabiam de antemão que se a bola chegasse ao trio do meio-campo ofensivo da equipa, o Brasil corria sérios riscos. Desempenharam o seu papel na perfeição, os jogadores brasileiros, e Robben e Sneijder nada puderam mostrar porque os passes da equipa, essencialmente de Van Bommel, não lhes chegavam sequer.
Na 2ª parte, a canarinha mostrou-se sempre muito desorganizada defensivamente e a Holanda consciente de que teria de lutar mais pela bola, fazer mais pressão e ser menos ansiosa e mais determinada na troca de bola, pois só assim esta chegaria ao quarteto ofensivo, sem que Gilberto Silva ou Felipe Melo, numa primeira fase, e depois os defesas brasileiros, numa segunda fase, a interceptassem.
Após o auto-golo de Felipe Melo (que esteve no melhor – grande assistência – e no pior – auto-golo e, mais tarde, expulsão), no seguimento de um cruzamento remate de Sneijder, o melhor em campo, a desorganização táctica com que o Brasil abordou a 2ª parte, numa atitude, provavelmente inconsciente, de que estava muito superior no jogo e dificilmente via a vitória fugir, tornou-se ainda mais bem patente.
A partir desse momento foi ver o Brasil a descontrolar-se psicologicamente (depois de já se ter descontrolado tacticamente) e a Holanda a saber rentabilizar isso como gente grande, com o trio que leva a equipa às costas Robben, Sneijder e Kuyt a temporizar muito bem o jogo e a obrigar fazer o adversário recorrer á falta – e aqui falo de Robben, mestre desta arte, conseguiu sacar o vermelho da cartola do árbitro com destino a Felipe Melo.
Noutro lance de bola parada (canto marcado por Robben), Kuyt penteia a bola de cabeça, sobrando esta para Sneijder, completamente ausente de marcação, fazer o golo.
Pouco mais há a dizer, até parece simples pelo sub-rendimento apresentado pelo Brasil na 2ª parte. Não se deverá é esquecer quem teve papel fundamental e muito complicado, ao estar a perder por 1-0, nesse sub-rendimento. Quem teve a força mental, de campeão, para dar a volta a uma equipa, que independentemente do seu valor colectivo, tem grandes valores individuais e estava talhada para fazer grande jogo durante os 90 minutos.
Uruguai 1 – Gana 1 (4-2, G.P.)
Jogo muito equilibrado entre duas selecções com legítimas aspirações de fazer história. Ambas as equipas não estiveram ao nível a que nos têm habituado, apesar das duas terem feito muitos remates e lutado pela vitória.
O Uruguai apresentou-se com uma alteração nada pequena, uma vez que mexeu com o sistema: abandonou o 4-3-3 que garantia a Álvaro Pereira um lugar no onze, a meio-campo, e deu uma oportunidade ao 4-2-3-1, sistema privilegiado por muitas selecções nesta competição. Em teoria, esta alteração permitiria tirar mais proveito da capacidade de finalização de Suárez e colocar um homem na direita do meio-campo ofensivo (Álvaro Fernández). Digo em teoria, porque não há grande termo de comparação, uma vez que o Uruguai fez, muito provavelmente, o seu pior jogo do Mundial (o que nunca pode deixar de ser um elogio à equipa de Tabarez) e, portanto, jogou melhor nos outros jogos em que não havia apenas uma referência na frente, mas três – Suárez, Forlán e Cavani.
Álvaro Fernández não produziu o desejado e, ainda na 1ª parte, uma baixa de peso ocorreu na selecção uruguaia, falo da lesão do capitão Lugano, a voz de comando da equipa e da experiência.
O Gana lamentar-se-á sempre da suspensão aplicada a Ayew, a grande referência criativa da equipa, como não há outra. E, obviamente, do penalty falhado por Gyan quando o marcador já deixara de marcar 120’.
Segue o Uruguai, apesar de 26 dos 40 remates terem pertencido ao Gana, 10 dos quais à baliza (contra 7 uruguaios).
Dizer que a troca de Inkoom por Tagoe não poderá ser muito criticada, uma vez que o 1º cumpriu com o chamamento do país, comparecendo a bom nível, e que a prova dada pelo próprio de que foi a (boa) alternativa natural a Ayew, foi o golo marcado por Muntari.
Podia ter ultrapassado o feito do Senegal, que em 2002 ficou-se também pelos Quartos, e não foi por ter tido a sorte do seu lado que não conseguiu…
Um jogo dominado pela Holanda, que não deu qualquer tipo de chances à Eslováquia do colocar em prática o seu futebol: colectivo, passa por sucessivas trocas de bola em constante progressão no terreno e uma eficácia acima da média no último terço do terreno.
Uma Holanda que fica diferente, com outro toque de magia, com a simples entrada em cena de Robben, que presume-se ainda estar debilitado fisicamente, tal a precocidade com que regressou ao activo, em recuperação recorde, e que mesmo assim foi o melhor em campo, com as suas habituais diagonais, indo para cima do adversário e puxando a bola para o centro, saindo depois o remate. Assim foi o golo marcado por si, que deu o 1-0 e assim teve mais, pelo menos, um remate de golo iminente, com Mucha a defender e a bola a passar ainda assim a rasar o poste.
Sneijder, autor do passe longo soberbo a lançar Robben na frente, foi também ele protagonista de exibição completamente extasiante, com uma leitura e visão de jogo uma capacidade de passe, ao nível de poucos, muito poucos mesmo.
Diria mesmo que a esta selecção só falta um verdadeiro matador na frente. Já tinha aqui falado que, com a sua insistência, os golos de Van Persie acabariam por aparecer, como apareceram, como é natural, mas não como deviam. Deveriam aparecer em muito mais quantidade. É que jogadores tecnicistas, a Holanda tem muitos no seu meio-campo ofensivo, mas na frente o fantasma de Nistelrooy subsiste, pois da maneira como a Holanda joga, valeria mais 2 ou 3 golos por jogo. Poderia ser Huntelaar, mas está com a confiança em baixo e, no pouco tempo que entra, torna-se difícil impor-se como esse jogador.
Hamsik voltou a jogar muito bem, dentro das limitações impostas pela Holanda à sua selecção, empurrando o jogo, fazendo a sua leitura correcta. Trata-se de um jogador que combina força, técnica e visão de jogo, o que nem sempre é fácil de encontrar. Vittek, a outra grande figura da equipa, tentou mais, mas hoje era muito difícil e ter dado para marcar através da marcação de grande penalidade já foi positivo.
Stoch e Weiss, os homens das alas, dois jogadores baixos e habilidosos, foram aposta que não se pode recriminar, antes pelo contrário, pois bem tentaram, e têm essa capacidade, abanar com o jogo, abrir e desorganizar a defesa holandesa, mas sempre com pouco sucesso.
Uma palavra para Mucha que evitou ainda alguns golos, numa exibição de grande nível. Muito seguro entre os postes.
Brasil 3 – Chile 0
O Chile não esteve tão forte como contra a Espanha, é um facto, não jogou de peito aberto como contra os nossos vizinhos, foi uma equipa menos corajosa e menos agressiva.
Mas que não se pense que não se estava a bater bem. Até ao minuto 35 bateu-se muito bem, com um predomínio do Brasil no jogo, com mais bola e maior pendor ofensivo, tentando o Chile aproveitar o contra-golpe.
O jogo ficou diferente, para pior, no caso chileno, depois desse minuto, em que os sul-americanos marcaram de bola parada e logo 3 minutos depois, numa jogada rápida em que 3 grandes individualidades fizeram a diferença com apenas 4 toques na bola desde que esta saiu dos pés de Robinho, passando depois pelos de Kaká e Fabiano.
Podia ter adoptado a táctiva adoptada por Portugal contra os brasileiros e puxar Sánchez e Beausejour para o meio-campo, adoptando, assim, um 4-1-4-1 que bem funcionou com Portugal e que poderia ter funcionado com o Chile. Mas já se percebeu que não é esse o estilo de Bielsa, que inclusive adoptou uma táctica ainda mais ofensiva contra Espanha (4-2-3-1) e este não lhe mexeu, trocou apenas alguns jogadores, essencialmente por problemas físicos. Entrou Suazo, saiu Valdívia e não há dúvidas de que Suazo não está em forma, e optou por, face à indisponibilidade de Estrada para o jogo, colocar Mark González a meio-campo, numa medida que penso que teria sido melhor se tivesse sido Matías Fernández a entrar, pelas suas características que se adaptam muito melhor ao corredor central do que as de González, ou até mesmo Millar, que acabou por entrar…
Pena ver o Chile ficar pelo caminho, depois de ter demonstrado ser das selecções que melhor futebol pratica mas, ao mesmo tempo, praticamente inevitável. Mas também não tenho dúvidas nenhumas que, na sua máxima força, o Chile obteria um resultado bastante mais equilibrado, e daria muito mais luta, como o fez frente a Espanha, que não fica nada a perder ao Brasil.
Primeira parte do Brasil, completamente, sem qualquer margem para dúvidas. Já a segunda parte, e apesar de nunca com o domínio como o que teve a canarinha na 1ª parte, a selecção lusa foi superior, trocando muito bem a bola e fazendo o Brasil ficar a cheirá-la, isto é, a vê-la passar sem que muito pudesse fazer, ou pelo menos, sem a facilidade que gostaria de interceptar jogadas. Queiroz montou a equipa num 4-1-4-1, com Pepe a entrar no onze desde o apito inicial, a trinco. No fundo, numa variação do 4-3-3, baixando os extremos para o meio-campo, para o lado dos médios-centro e colocando Cristiano a 9.
E o que é certo é que a dupla Tiago-Meireles tem resultado na perfeição, com ambos a fazerem grandes exibições, penso que Tiago até tem tido exibições mais conseguidas, mesmo com um jogo a menos de observação.
Coentrão está também em todas, sempre em grande forma, cometendo apenas um erro grave no jogo que poderia ter custado mesmo muito caro. Com a função de não deixar Maicon subir à vontade pelo flanco direito, Coentrão cumpriu a missão exemplarmente, excepto numa jogada em que teve medo de se fazer à bola, bem perto da bandeirola de canto, com medo de ser “papado”, de ser comido por Maicon e deixou cruzar com facilidade. Por sorte, para Portugal, Fabiano cabeceou ao lado. Mas foi mesmo muito pouco ao lado…
Na lateral-direita, a saída de Miguel era inevitável e só voltará a jogar mesmo em caso de necessidade, depois da exibição que fez contra a Coreia, que dispensa qualquer tipo de comentários, até porque já os fiz na altura. A escolha natural seria Paulo Ferreira, preferiu Queiroz optar por Ricardo Costa. Optaria por Paulo Ferreira, pelas rotinas de largos anos que tem na posição e regularidade exibicional, mas o que é certo é que Ricardo Costa cumpriu e, como tal, não há nada a apontar, não vale a pena especular qual dos dois teria actuado melhor.
Percebeu-se a ideia de Queiroz ao colocar Duda e Danny nas alas do meio-campo e Cristiano na frente. Contudo, como Danny não é jogador de características defensivas, teria antes optado por colocar na sua posição Ronaldo e na frente Liedson, devido às suas características, melhores para este jogo que as de Hugo Almeida, apesar do muito bom jogo conseguido pelo último frente à Coreia. Até porque não gosto de ver Ronaldo a 9, por pensar e estar bastante certo de que rende muitíssimo mais a extremo. E não é pelo facto de Danny ter jogado mal que digo isto. Duda também jogou mal, contudo, a opção natural seria Veloso para o seu lugar e Queiroz queria velocidade nas alas, o que penso que toda a gente compreenderá e apoiará.
Do lado do Brasil, penso mesmo que a 2ª parte traduz melhor a real valia da selecção sul-americana do que a 1ª. O Brasil não está a jogar nada, volto a frisar, ainda mais quando comparado a antigas selecções. É mesmo um exercício custoso, tais as diferenças.
Mérito para Dunga, que apesar de colocar Maicon a lateral-direito no papel, optou por fazer trocar de posição o jogador interista com Dani Alves, que começou a extremo-direito, numa clara tentativa de surpreender a equipa das Quinas com o poder físico e técnico de Maicon, fazendo-o utilizar muito o espaço entre-linhas entre a defesa e o meio-campo de Portugal, tendo Portugal tido muitas dificuldades, deixando-o muito sozinho, com muito espaço para receber, pensar e executar. Apenas um Coentrão em grande forma poderia anular tal estratégia. Já na 2ª parte, Queiroz corrigiu e colocou Danny, em constantes trocas com Duda, posicionado a cerca de 3 metros do brasileiro, deixando-o assim mais apertado para receber a bola e forçado a passá-la aos companheiros.
O Brasil esteve melhor no cômputo geral da partida, sem qualquer dúvida, com 3 ou 4 boas oportunidades de golo (e aqui há que dar mérito a Eduardo, protagonista de exibição muito segura), com uma delas levar a bola a embater no poste depois de defesa de Eduardo, mas Portugal fez o seu jogo, ponderado, com cabeça e terá de continuar assim, caso queira continuar a surpreender. E terá de ser já na próxima com a Espanha.
Coreia do Norte 0 – Costa do Marfim 3
Foi o que já se previa: a Coreia do Norte a defender como pode, com o seu clarinho 5-3-2 e a Costa do Marfim ciente de que teria mesmo de golear, pois esperar por uma goleada do Brasil a Portugal seria pura ingenuidade.
Entrou muito forte a Costa do Marfim no jogo, criando muitas oportunidades, com Drogba, Yaya Touré e Boka muito fortes e Gervinho e Keita que, apesar de estarem a perder muitas bolas, trabalhar bem e estiveram sempre muito activos na frente.
E a verdade é que a Costa do Marfim esteve sempre muito segura também a defender, mantendo os intocáveis Kolo Touré e Zokora no eixo da defesa e Tioté a trinco, para além de Romaric e Yaya Touré, jogadores que apesar de estarem muito participativos no ataque (a táctica coreana assim o permite e obriga), estiveram sempre seguros a defender. Destaque também para os homens das laterais, Boka e Eboué, dois jogadores que não tiveram grandes trabalhos defensivos, mas estiveram muito bem a atacar, a subir pelo flanco, com especial incidência para Boka, autor de uma assistência e de um grande jogo. Só se estrearam neste jogo, porque Eriksson quis colocar Demel e Tioté contra Portugal e Brasil pelo seu porte físico, bastando olhar para o feito de Demel logo no início do jogo contra Portugal: fez falta sobre Cristiano, não assinalada pelo árbitro, provocou-o e sacou o amarelo do bolso do árbitro, baixando a actividade de Cristiano em jogo. Penso que este é o exemplo perfeito, que demonstra bem o porquê de Eriksson ter optado por estes jogadores, não pensando apenas nos atributos técnicos, mas também psicológicos. Por outra razão não se perceberia o porquê de não fazer a equipa actuar com Eboué e Boka nas laterais…
Certinho também é que a Costa do Marfim era, a par do Gana (não me peçam para escolher, não quero) a selecção africana mais forte em prova, a mais forte tacticamente, estando a esse nível a par de muitas das europeias, pela experiência que 6 ou 7 jogadores conferem à equipa, com a experiência natural adquirida nos melhores clubes europeus, experiência essa que muitos jogadores europeus não têm.
E não haja dúvidas que selecções africanas como a Costa do Marfim jogam muito melhor, empenham-se muito mais no Mundial do que no Campeonato Africano das Nações, onde, por jogarem onde jogam, se sentem mais que os outros, se sentem as estrelas da competição, coisa que não acontece, obviamente, no Mundial, o que os leva a querer fazer muito melhor, a ser mais humildes e não tenho dúvidas nenhumas que em qualquer outro grupo a probabilidade desta selecção passar à fase seguinte seria sempre muito alta.
Mas o futebol é isto, tivessem eles marcado uma das oportunidades de golo que tiveram contra Portugal, nos últimos minutos e as contas seriam outras nesta altura. Tiveram também o calendário mais difícil, juntamente com a Coreia.
Resumidamente, tiveram o azar de calhar no grupo da morte…
Chile 1 – Espanha 2
Grande Chile, sempre a jogar de cabeça levantada, colocando a Espanha em sentido desde o 1º minuto, sempre muito agressivo a pressionar o seu opositor, mal estes recebiam a bola, não dando qualquer hipótese de troca de bola à mestre da posse.
Contudo, volto a frisar que a Espanha desceu de rendimento do 1º jogo, onde fez o seu jogo e só por acaso não ganhou, terminando com 63% de posse de bola, fazendo aquilo que sabe, no fundo, com os jogadores a interpretarem a sua filosofia de jogo na perfeição, em relação a estes dois últimos. No 2º jogo, jogou bem, referindo eu que difícil nesta equipa é jogar mal, contudo neste último jogo contra o Chile, por demérito seu e mérito do Chile, como sempre nestas situações, jogou mal, não jogou nada e desceu ao nível do que equipas como o Brasil e a Alemanha já jogaram neste Campeonato, equipas que apenas se fazem valer pela capacidade individual dos seus jogadores.
Se repararmos, ambos os golos da Espanha foram obtidos através de jogadas soltas, que se fizeram valer à custa das capacidades individuais dos seus protagonistas, lances de inspiração. No 1º, Bravo sai-se, entrega mal e Villa, de primeira e com o pé mais fraco, faz o golo. No 2º, toque de Iniesta para Villa, este devolve e Iniesta remata de 1ª para o golo.
No seguimento do lance do 2º golo, o árbitro deu ordem de expulsão a Estrada e aí esperava-se que a Espanha viesse para cima, esperava o público em geral e ainda mais esperavam os suíços, que tinham a sua passagem à fase seguinte condicionada por esse resultado.
Contudo, e tendo em linha de conta que o 2º golo surgiu já perto do intervalo, Bielsa aguardou pela ida aos balneários para alertar a equipa de que iriam haver mudanças. Saiu Valdívia para dar lugar a Paredes, muito boa opção, uma vez que Valdívia não se estava a dar bem no jogo e era preciso tentar o golo, colocando-se para isso um verdadeiro ponta-de-lança, e saiu Mark González (extremo-esquerdo), que estava a passar um pouco ao lado do jogo, para entrar um médio-centro. Este acabou por fazer o gosto ao pé, sendo impressionante a maneira como o Chile iniciou a 2ª parte, superiorizando-se à Espanha apesar de ter em campo menos um jogador. Contudo, como o resultado estava do agrado do Chile e não convinha arriscar, estando também do agrado de Espanha, o objectivo foi apenas manter de ambos os lados.
Suíça 0 – Honduras 0
Jogo muito equilibrado, com uma Suíça que desilude ver jogar e umas Honduras que sabem aproveitar o jogo suíço.
Assim, a Suíça causou grande impacto logo no 1º jogo contra a Espanha, uma vez que as características do seu jogo foram das melhores que se poderiam ter utilizado para tentar anular a Espanha e, com sorte e engenho, assim o fizeram. Contudo, contra o Chile, selecção agressiva a pressionar e muito ofensiva, também por culpa da expulsão precoce de Behrami, a Suíça não conseguiu pôr o seu jogo em prática e acabou mesmo por perder.
Hoje, jogaram com onze e não foram além de um empate a 0, tendo ainda em conta que as Honduras dispuseram das melhores oportunidades de golo, tendo os últimos tido um fora-de-jogo mal assinalado, que se não tem sido marcado, provavelmente teria feito com que o jogo tivesse acabado com uma derrota suíça por 1-0.
As Honduras, onde desde o início afirmo que Suazo tem lugar indiscutível no onze, assim como Alvarez, pela qualidade de ambos e características que encaixam muito bem no jogo da equipa que tenta ser ofensiva (consegue-o contra a Suíça), mas a jogar contra selecções fortes tem de apostar mais no contra-ataque (como contra Chile e Espanha).
Parece-me mesmo que a selecção hondurenha ganhou muito com a saída de Guevara e entrada de Hendry Thomas, para o lado de Wilson Palacios, aumentando a capacidade defensiva, de reter as bolas a meio-campo e tentar evitar a entrada do adversário no último terço do campo. Apostou também em Jerry Palacios para 10. Apesar de não ter jogado mal, e percebe-se a ideia de colocar alguns jogadores que ainda não tenham jogado na prova, o melhor para a equipa parece-me mesmo Nuñez (jogou na esquerda) assumir essa posição e ficar Alvarez e Martinez, que só depois entrou, nas faixas.
Do lado suíço, tudo normal: Senderos lesionado deu lugar a Von Bergen e Derdiyok regressou à posição que lhe pertence, a apoiar Nkufo.
Disse que esta selecção suíça desiludia pois, apesar de desde o início da competição ter deixado bem patente qual iria ser o seu estilo de jogo, estivessem bem os seus intervenientes e a equipa teria muito mais potencialidades, mas a verdade nua e crua é que Inler, o capitão, e o próprio Barnetta, por exemplo, dois jogadores influentes que faziam toda a diferença, nunca estiveram ao seu nível.
Apesar de, tacticamente, a Eslováquia arriscar mais, no papel, à partida para este jogo, com a passagem do 4-2-3-1 para o 4-1-4-1, substituindo o duplo-pivot por apenas um pivot, na prática, tal arriscanço não teve complicações práticas para o Paraguai, que dominou completamente durante todo o encontro, sendo mais esperto na gestão do jogo, muito mais eficaz, com muitos remates perigosos.
A Eslováquia bem tentou entrar bem no jogo, isto é, fazer um golo cedo, mostrar que entrava forte e confiante, mas a adição de Santa Cruz à equipa, em troca com Torres, e a consequente passagem de 4-4-2 clássico para 4-3-3, com um Vera sempre muito activo a meio-campo e um Lucas endiabrado, fizeram com que a Eslováquia não tivesse sorte nenhuma.
Enquanto que Santa Cruz baixa no terreno quando a equipa não tem bola, Lucas está encarregue de estar sempre muito presente ao pé da grande área, apesar de muito móvel, ficando Valdez encarregue de vir também mais atrás, mas à esquerda e, como já afirmei, Vera é o mais activo ofensivamente, uma vez que é aquele que menos preocupações defensivas tem, ficando encarregue de surpreender o adversário com investidas esporádicas, combinado com Lucas na frente normalmente. Posto isto, Cáceres e Riveros ficam com a tarefa de cobrir tais investidas, mantendo-se próximos do centro do terreno.
Está de parabéns o Paraguai, que soube anular completamente as linhas ofensivas eslovacas, que perigo praticamente nenhum causaram a Villar. Quando Weiss apanhava a bola, caíam-lhe logo 2 ou 3 em cima para que o jovem talentoso não criasse perigo, com a sua rapidez e habilidade e Hamsik esteve também sempre bem controladinho para não usar o seu dom de fazer a diferença e o peso que tem na equipa.
Itália 1 – Nova Zelândia 1
Para ser sincero, esperava uma vitória da Itália, assim como a grande maioria dos espectadores.
Bem sei que está a atravessar um muitíssimo mau momento, mas, volto a repetir, penso que esta Nova Zelândia, apesar de hoje não ter ficado muito bem patente, apesar de ter contrariado essa tese mesmo, é muito fraca, das selecções mais fracas em prova a par das Honduras, quanto a mim.
O que é certo é que, através de um lance de bola parada, fizeram a Itália ir a correr atrás de um resultado, tendo apenas igualado através de grande penalidade, por Iaquinta.
Pepe, abono de família desta Itália, único pelo menos até à recuperação de Pirlo, esteve muito abaixo do nível a que se mostrou no 1º jogo, Iaquinta e Gilardino praticamente inexistentes. Inexistente voltou também a estar Marchisio, ainda pior que no último jogo, onde me parece ter actuado numa posição que se adapta melhor às suas características, a 10. E a equipa bem necessitava dele, pelas mesmas razões que o Brasil necessitava de um Kaká em grande forma, ou pelo menos, em boa forma. Criatividade, leitura de jogo, capacidade de passe, de pautar, são características importantíssimas no futebol actual e a jogar num 4-2-3-1, como a Itália jogou no primeiro jogo (neste jogou num 4-4-2, com Iaquinta a fazer de segundo-avançado) e o Brasil joga torna-se mesmo imprescindível e a ausência desse jogador torna-se gritante.
Montolivo foi mesmo o melhor italiano, tendo feito uma boa exibição culminada com grande remate de longe ao poste, e eu apostaria mesmo em colocá-lo a 10 com Pirlo a fazer dupla com De Rossi.
Arrisco, contudo, a afirmar que este jogo terá sido o melhor dos All Whites nos últimos tempos e dos que virão a seguir, neste caso, o próximo e último do grupo. Bertos jogou muito bem, com excelentes iniciativas ofensivas, passando com técnica pelos adversários, metendo a bola por um dos lados e indo pelo outro, Elliot voltou a estar muito bem (dele foi a marcação da bola parada que originou o golo) e volto a frisar a sua importância na equipa, assim como Vicelich, o restante elemento do trio que compõe o meio-campo, também esteve a grande nível.
Smeltz voltou mostrar bom rendimento, contribuindo decisivamente para o desfecho da partida com um golo, assim como Nelsen e Reid se apresentaram a muitíssimo bom nível.
Um dos pilares da equipa assenta na colocação de um 9 com porte físico considerável, daí ter lá estado neste jogo desde início Fallon (1,88m) e a meia-hora do fim ter entrado (típica substituição) Wood, 1,91m, com 18 anos mas já capaz de fazer estragos nas defesas adversárias, fazendo uso essencialmente do seu porte físico.
Brasil 3 – Costa do Marfim 1
A primeira parte do Brasil demonstra bem qual o estado da equipa. O Brasil é daquelas equipas que dificilmente se poderá dizer “vai perder”, pelas suas individualidades, ou que “não dá uma para a caixa”, pois para cada posição tem jogadores de craveira mundial e não é um, mas 3 ou 4 para cada um dos 11 lugares, todos eles titulares dos maiores clubes do Mundo.
Mas clarinho como a água é o Brasil estar uma sombra do que já foi.
Enfim, na defesa não há muito a apontar, os 5 têm cumprido com o que é pedido/exigível e todos eles são grandes jogadores. A posição da defesa que os adeptos poderiam ter maior receio pela ausência de nomes sonantes era mesmo a lateral-esquerda, contudo Michel Bastos revelou-se boa adaptação (não é costume o Brasil precisar delas!), sendo já indicado como o sucessor do Roberto Carlos, pelo seu potente remate e subidas pelo flanco esquerdo vindo de trás. A alternativa chama-se Gilberto, 34 anos, pouco conhecido do público menos atento.
Maicon dispensa apresentações, assim como Lúcio, Juan e Júlio César.
Mas, apesar de Fabiano não estar na melhor forma (sim, eu sei que bisou), o grande problema reside mesmo no meio-campo: Kaká está um fantasma em campo, em 5 bolas ganha 2 e perde 3, é vê-lo a cair e a errar passes, a perder a bola e a mostrar ansiedade, própria de quem quer fazer as coisas bem e elas não saem – se fosse a Dunga, colocaria Júlio Baptista contra Portugal independentemente do Kaká ter sido expulso (pior, muito pior, para Portugal, quanto a mim) e Felipe Melo e Gilberto Silva demonstram não servir para formar dupla daquela que é a melhor selecção mundial de futebol, a mais consagrada, pentacampeã mundial, quanto mais não seja, por nada de relevante acrescentarem à equipa, ou pelo menos, por não acrescentarem aquilo que a equipa pedia. Já Robinho e Elano destacam-se pela positiva.
Mas, para ser sincero, confesso que estou mesmo muito desiludido (já o venho a estar desde há alguns anos) com a selecção brasileira, com jogadores todos muito “europeizados”, sem verdadeiro espírito brasileiro, sem o perfume do futebol brasileiro, selecção que está muito envelhecida, olha-se para o banco e para o onze e saltam à vista os 30, 32, 33 anos no BI. E uma coisa era serem grandes jogadores, outra é já terem sido ou, simplesmente, não serem.
A Costa do Marfim, entrou muito bem no jogo, ganhando o meio-campo ao Brasil e, com isso, o jogo. Via-se uma Costa do Marfim por cima, com jogadores capazes de, mais momento, menos momento, dar o golpe aos canarinhos, eis se não quando um lance (penso que o primeiro, não só do jogo, mas de há largos dias) de Kaká a isolar Fabiano, vira o jogo: 1-0, assim se manteve o marcador até ao intervalo.
Conseguiu depois o Brasil melhorar um pouco e inverter a tendência do jogo, mas não foi nada fácil e, lá está o porquê de uma selecção como a brasileira ser sempre perigosa, um lance entre 2 predestinados e golo. O jogo vai-se invertendo naturalmente, os costa-marfinenses começam a ficar um pouco cansados e o jogo vai ficando cada vez mais partido, apesar da Costa do Marfim ser das selecções mais disciplinadas tacticamente deste Mundial, sobressaindo depois a qualidade técnica individual dos jogadores em campo. Aí ganha claramente o Brasil, quanto mais não seja por respeito à história do futebol mundial!
Yaya Touré voltou a estar absolutamente espectacular no jogo, tendo sido dele o passe para o golo. Dindane não esteve tão activo no ataque como contra Portugal. Tioté revela-se muito importante naquele meio-campo e Zokora demonstra saber sair a jogar, podendo-se até fazer um paralelismo com Piqué, na maneira como ambos se impõe como o primeiro homem da construção ofensiva das respectivas equipas, tendo papel importante na equipa, assim como Kolo Touré, obviamente.