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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Entrevista a Ricardo Torrão

Aqui está a entrevista que prometi publicar na postagem anterior, que não deixa de vir com um pouco de atraso. Nada de preocupante, contudo. Esta é a primeira entrevista exclusiva Futebolite Aguda, mas o meu desejo é fazer muitas mais daqui em diante sempre que ache interessante o entrevistado e sempre que este possa, como disse anteriormente, acrescentar algo ao leitor. Algo que este não esteja habituado a ler todos os dias na imprensa desportiva.

Aqui ficam também os meus agradecimentos a Ricardo Torrão, que desde o primeiro minuto demonstrou a sua total disponibilidade em colaborar, votos para uma boa carreira profissional, para que daqui a uns anos voltemos a falar sobre temas ainda mais atractivos (como uma experiência ao mais alto nível, por exemplo) e votos para, claro está, muitos mais e bons entrevistados!

Pessoal.

Acompanha o futebol português?

Sim, quando estou em Portugal acompanho todos ou quase todos os jogos pela televisão e jornais. Quando estava na China apenas acompanhava através dos jornais electrónicos.

Qual o melhor jogador da actualidade?

Cristiano Ronaldo.

E qual o melhor treinador?

Pep Guardiola.

Qual o seu ídolo?

João Vieira Pinto, desde criança.

Qual o seu maior sonho no Mundo do Futebol?

Representar a selecção nacional.

O começo.

Como foi deixar Macau, o conforto do lar e da família, para abraçar um desafio num Mundo tão incerto como o futebol. Ainda para mais, tendo em conta a sua idade na altura, 14 anos e o facto de ter partido sozinho ‘à aventura’?

Desde criança que sonho ser jogador profissional de futebol e, na altura em que os meus pais me propuseram a oportunidade de puder vir para Portugal jogar futebol, não hesitei e embarquei nesta aventura. Em relação a deixar a família, não tive grandes dificuldades, porque um dos meus irmãos residia em Portugal e encontrei aí o apoio que necessitava. Apesar de sentir a falta dos meus pais. Foi bom porque cresci como homem e comecei a sentir cedo o peso da responsabilidade. Aprendi bastante.

Quando cá chegou porque escolheu o Benfica para ir prestar provas?

Não foi uma questão de escolha, o Benfica surgiu por intermédio de um treinador meu de Macau, Rui Cardoso.

Qual a sua relação com o Estrela da Amadora? É natural que nutra um carinho especial pelo primeiro clube de futebol que o acolheu…

Sinto um carinho enorme pelo Estrela da Amadora, porque foi lá que cresci como jogador e como pessoa. Uma instituição que sempre me tratou bem e que guardo no coração.

Como vê a actual situação (precária) que o clube atravessa?

É com muita pena que vejo a situação do clube. Contudo, temos que ver que devido à crise mundial, cada vez mais se dão estes casos. Mas acredito que o Estrela dentro de dois anos volte a estar em grande. Há que apoiar o clube.

Lembra-se ainda da forma como o Sporting o abordou, quando tinha ainda idade de juvenil B?

(risos) Lembro-me muito bem! Atravessava uma muito boa fase no Estrela da Amadora, onde em quase todos os jogos marcava golos…tudo me corria bem. Surgiu um olheiro do Sporting, após ver um jogo meu comunicou a direcção e nessa altura a direcção do Sporting informou esse olheiro que já haviam várias referências minhas, decidiram então que seria altura de me deslocar a academia de Alcochete para ter uma conversa com o Sr. Paulo Cardoso e o Sr. Aurélio Pereira.

Como foi gerir o entusiasmo de vir a poder representar um clube como o Sporting, que para além da sua grandeza, é reconhecido internacionalmente pela sua qualidade na formação, por apostar muito na prata da casa?

Na altura fiquei muito entusiasmado, pois o sonho de qualquer jovem que jogue em Portugal é representar as camadas jovens do Sporting, devido à sua constante aposta em jovens.

Ficou naturalmente desiludido quando a hipótese-Sporting murchou. Isso afectou-lhe o rendimento desportivo ou, pelo contrário, deu-lhe um estímulo adicional para voltar a atrair o interesse de grandes clubes no seu concurso?

Naturalmente que fiquei desiludido, mas nada que afectasse o meu rendimento desportivo, porque sempre fui uma pessoa que vê as coisas pelo lado positivo: não aconteceu na altura, vou continuar a trabalhar para que um dia se possa vir a realizar.

A experiência chinesa na cidade de Chengdu.

Como descreve a experiência que viveu na China?

Uma experiência bastante positiva, futebol num pais completamente diferente, apesar de já ter estado em Macau. Consegui integrar-me bem no futebol sénior, devido há experiência que tinha tido ao integrar a equipa sénior do Pêro Pinheiro. Aprendi muito com jogadores que já eram muito mais velhos que eu e alguns deles estrelas do futebol chinês.

Como é que era passado o seu dia-a-dia em Chengdu?

Começava cedo o dia, às 7.30 da manhã a equipa juntava se no refeitório e tomávamos o pequeno-almoço juntos. Por volta das 8.45 íamos para um dos campos relvados e treinávamos. Por volta da 11 acabávamos o treino e regressávamos aos quartos para relaxar até à hora de almoço. Ao meio-dia almoçávamos e tínhamos descanso até às 4 da tarde, hora em que íamos todos para o ginásio fazer treinos de musculação. Por volta das 5.30 da tarde regressávamos aos quartos e às 7 horas da tarde jantávamos. Depois de jantar estávamos mais à vontade e poderíamos ir ao supermercado, caso quiséssemos, comprar algo para o quarto (bolachas, chá, leite, cereais, …). Por volta das 9 da noite, já tínhamos de estar nos quartos a dormir. Nos dias de folga (que era aos domingos) a maior parte das vezes depois da cansativa viagem a Hong kong para o jogo, poderíamos passear pela cidade, almoçar e jantar fora.

Como comunicava com os jogadores nacionais do país (China)? Fez alguns amigos?

A comunicação foi algo difícil mas nada que não ultrapassasse. Poucos jogadores falavam a língua inglesa e os treinadores por vezes tinham de chamar um jogador que percebesse e falasse melhor para me dar indicações ou explicar os exercícios, mas nada que impedisse que treinasse. Fiz alguns colegas, os que falavam mais inglês eram os colegas mais próximos, um que já tinha jogado no Atlético de Madrid, de Espanha, entendia espanhol por isso conversar com ele era fácil e outros dois jogadores que já tinham jogado em França falavam inglês relativamente bem. Ainda hoje que já estou em Portugal, de vez em quando, ligam-me e perguntam como estão a correr as coisas por aqui.

Sente que retirou alguns “ensinamentos” quando jogava contra o Chengdu Blades, ao defrontar jogadores com experiência como o é Li Tie, experiente médio chinês que já jogou na Premier League (ao serviço do Everton e Sheffield United) e esteve presente no Mundial 2002?

Não tive algum contacto com Li Tie: quando cheguei a Chengdu, este já estava de saída para um clube da segunda divisão. Mas era dos únicos jogadores chineses de que ouvira falar na Europa, pena não ter jogado com ele, de certeza que poderia aprender com Li Tie, depois das suas passagens pelo futebol inglês deve ser um bom jogador.

Partilha da opinião de diversas pessoas, de que o futebol chinês é um futebol cheio de potencialidades, pelo seu elevado número populacional, pela capacidade de trabalho do povo chinês e pelo crescente investimento neste desporto?

O futebol na China está a crescer a pique, existem muitos espectadores e os media estão muito em cima do futebol. O número de praticantes é enorme, e muitos milhares sonham ser profissionais. Cada vez mais a China investe no futebol, este ano foi para uma equipa [Tianjin Teda] um jogador muito conhecido, [Damiano] Tommasi, que chegou a jogar na Roma [de 1996-97 a 2005-06], e é disso que os chineses gostam: jogadores europeus conhecidos a jogar no seu país. Dentro de 10 anos a China será muito forte no futebol.

Sabia que Zhang Chiming, avançado chinês de 20 anos que na primeira metade da temporada transacta se cruzou consigo no Chengdu, fez o último ano de júnior no Porto? Falou com ele acerca do clube e do futebol português?

Já tinha ouvido falar deste jogador mas não o cheguei a conhecer. Quando cheguei ao clube perguntei pelo jogador, mas ele não se encontrava a treinar no clube.

Também na primeira metade da temporada transacta defrontou por diversas vezes Denílson, avançado brasileiro de 29 anos, que já actuou, entre outros, no Braga B, Freamunde, Sp. Covilhã, Sp. Espinho, Varzim e Feirense, nos tais jogos que opunham frente-a-frente o Sheffield de Hong Kong com o Chengdu Blades (espécie de reservas contra equipa principal). Chegou a trocar impressões com Denílson acerca do futebol português?

Quando falava com os jogadores que estavam na equipa principal (que jogavam na principal divisão chinesa mesmo) era pouco tempo porque não treinávamos todos na mesma academia e quando nos encontrávamos nos jogos a conversa ficava mais pelo incentivo mútuo e pelas conversas sobre a equipa e os jogos que estavam a decorrer (da liga).

Portugal, o presente e o futuro…

Actualmente as suas aspirações para o seu futuro próximo prendem-se com uma transferência para um clube português no imediato. Já teve alguma abordagem de algum clube nacional? A empresa que o representa (Plenitude Lusitana Sport) já lhe comunicou algum interesse efectivo ou o seu clube já recebeu alguma proposta formal para adquirir os seus direitos desportivos?

Nesta altura ainda não tenho clube. Espero que esta semana ou na próxima já esteja tudo resolvido.

Em Portugal, tem preferência por algum clube em especial?

Não tenho preferências, desde que seja um clube organizado, compita na divisão nacional de juniores e que tenha ambição e vontade de vencer.

E no estrangeiro?

No estrangeiro, a liga inglesa é a que mais me fascina. Se um dia sair de Portugal novamente, seria em Inglaterra que gostaria de jogar.

Caso pudesse escolher, qual dos ‘três grandes’ portugueses optaria representar?

F.C. Porto.

E excluindo os ‘três grandes’, em Portugal, que clube reúne a sua preferência?

Estrela da Amadora.

Já pensou, e para finalizar, em (tentar) regressar ao Estrela neste preciso momento? Agora que o clube desceu para a II divisão, a entrada no clube seria facilitada e poderia participar num clube que bem conhece e que tem certamente a Liga no horizonte…

Seria com grande orgulho que voltaria a representar o Estrela. Uma casa que sempre me acolheu bem e onde aprendi muito. O Estrela fica no meu coração para sempre.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ricardo Torrão, um jovem em busca do sonho...


De há um tempo a esta parte que venho tentado reunir alguns contactos, com o intuito de criar um novo espaço no blog, denominado Entrevistas. O nome dispensa apresentações e tenho reunido diversos contactos com todo o tipo de pessoas que acho serem interessantes entrevistados e que possam acrescentar algo àquilo que se vê publicado regularmente na imprensa desportiva. Algo diferente. Já contactei diversos agentes do desporto-rei, mas por uma ou outra razão, a entrevista acabava sempre por não aparecer. Até que, nas minhas pesquisas, me deparei com uma personalidade que encaixava bem no perfil que pretendia para abrir este espaço, seu nome: Ricardo Torrão, jovem português de 18 anos, que na temporada transacta esteve a actuar na China. Em seguida apresento a sua biografia e amanhã colocarei a respectiva entrevista.

Apresentação.

Ricardo João de Almeida Torrão é um jovem médio português de 18 anos, nascido na África do Sul no dia 18 de Fevereiro de 1991. Com 1,75m e 67kg, Torrão fez a sua formação no Estrela da Amadora.

Formação: desde a rejeição do Benfica à abordagem do Sporting, foi no Estrela que sempre se destacou.

Com os pais emigrantes em Macau, Ricardo Torrão decidiu partir para Portugal sozinho em busca de um sonho: ser jogador profissional de futebol. Tudo isto, quando tinha apenas 14 anos. Mal chegou a Portugal e o primeiro clube escolhido pelo jovem Torrão para tentar a sua sorte no mundo da bola foi o Benfica. Como já aconteceu com tantos outros jogadores, não ficou. De seguida foi tentar a sua sorte no Estrela da Amadora, onde ficou logo ao fim do primeiro treino. Contudo, no seu primeiro ano no Estrela (iniciados A) apenas jogou cerca de 5 jogos, devido a problemas burocráticos, mais concretamente problemas na inscrição que se prendiam com o seu registo de residência. No seu segundo ano na Reboleira, Torrão ascendeu à categoria seguinte da formação, os juvenis B, onde fez por 18 vezes o gosto ao pé e onde foi inclusivamente nomeado sub-capitão de equipa. O grande rendimento de Torrão valeu-lhe a promoção precoce aos juvenis A, quando este ainda não tinha idade para tal e valeu-lhe também uma ida à Academia de Alcochete para falar com Paulo Cardoso e Aurélio Pereira, após abordagem do Sporting. Contudo, esta abordagem não passou disso mesmo, uma abordagem, tendo em conta que o Sporting não avançou para a sua contratação e Torrão permaneceu na Reboleira. Na temporada seguinte “ascendeu” aos juvenis A, onde já se encontrava desde a segunda metade da temporada passada. Apesar de tudo isto, já na altura o Estrela tinha problemas e isso também era sentido pelos jogadores. Foi por sentir falta de condições de treino e falta de apoio por parte da direcção em relação à formação, que Torrão decidiu procurar outro desafio. Quando tinha idade de juvenil A, Torrão foi para o Clube Atlético Pêro Pinheiro, onde integrou a equipa júnior, participando também nos jogos dos juvenis. Em meia época (só chegou ao clube em Janeiro), Torrão completa cerca de 23 jogos e faz 30 golos, estatística relativa a jogos de juniores e juvenis. Na pré-época de 2008-09, com 17 anos (idade de primeiro ano de júnior), Torrão faz a pré-época com os seniores do Pêro Pinheiro e é nesse momento que surge o interesse da Plenitude Lusitana Sport, empresa de representação de jogadores de futebol, em representá-lo. Pouco tempo depois, a empresa que agora o representava, apresentou-lhe uma proposta para ir jogar para a China, no Chengdu Blades, clube adquirido em 2006 pelo Sheffield United, actualmente a actuar na segunda divisão inglesa (Championship), quando ainda se chamava Chengdu Wuniu.

A mudança para o Chengdu Blades.

Antes de mais, explicar o essencial: o funcionamento da rede dos blades (alcunha do Sheffield United) na China. Existe o Chengdu Blades, equipa que disputa a Primeira Liga Chinesa e o Sheffield United, equipa que milita na primeira divisão de Hong Kong. Ambas as equipas treinam na China, no Centro de Desportos de Chengdu, porém esta última funciona como as reservas da primeira, sendo portanto muito utilizada para rodar os jovens jogadores do clube. Em Chengdu, Torrão encontrou uma academia com grandes condições e com tudo o que é necessário para uma equipa se desenvolver da melhor maneira. Desde ginásios e jacuzzis, passando pelos essenciais campos de futebol, até saunas e dormitórios, a academia tinha um pouco de tudo. Quase todas as semanas fazia um jogo contra a “equipa principal” onde o Sheffield ganhava e empatava mais vezes do que perdia. Todos os fins-de-semana, as “reservas” tinham de apanhar um avião que levava 2 horas a chegar a Hong Kong, dormir lá e jogar no dia seguinte, pois é lá que o clube existe competitivamente. Na Liga Principal de Hong Kong, Torrão, com o número 10 nas costas, defrontou muitos jogadores que já passaram pelos relvados da Primeira Liga Portuguesa, como Tales Schutz, ex-jogador do Leixões e matador do South China, clube hegemónico no país. Apesar de todo este cenário, é fundamental referir que, apesar dos seus tenros 18 anos, Torrão apenas representou a equipa de “reservas” devido à lei dos estrangeiros. Assim, o clube já contava nos seus quadros com 3 jogadores estrangeiros que por sua vez contavam com um trunfo que Torrão só vai poder contar daqui a alguns anos: experiência; jogadores já em fim de carreira, com muitos anos de clube e/ou de Liga Chinesa.

Concluída a experiência chinesa…segue-se a portuguesa!

Foi uma experiência positiva, aquela que Torrão viveu em Chengdu, e que lhe permitiu “desenvolver bastante a minha capacidade física, em termos de força…”, segundo palavras do próprio.

Para esta temporada, as ambições de Torrão concentram-se em arranjar um clube em Portugal, país para o qual já tem viagem marcada, sendo no entanto ainda uma incógnita o clube que o irá receber. Outro dos objectivos é ser seleccionado para representar a selecção nacional sub-19, liderada por Ilídio Vale.